sábado, 2 de julho de 2011

O lugar do amor

Já nos acostumamos com certas celebrações e sabemos que a mídia não deixa de “capitalizá-las”, a exemplo do dia dos namorados, quando proliferam convites a novas maneiras de expressar os “amores” entre dois, inimagináveis dicas de presentes, lugares exóticos para se estar, viagens românticas ou experiências inusitadas. Na ânsia de cobrir os desejos humanos, mesmo a grande leva dos “excluídos” deste Olimpo do amor pode encontrar conforto nas manifestações divulgadas via rede social ou ainda em produções (filmes, blogs) que se ocupam em tentar colocar palavras em suas possíveis e sofridas dores ou mesmo encenar o lado B destes “amores”, suas agonias e incertezas. Ou seja, se há tamanha galera do lado de fora esperando e querendo entrar é porque o show continua fazendo sucesso. Mas ainda há mais. Alguns aproveitam a ocasião para lembrar a todos que o verdadeiro amor é aquele que se experimenta ao ter um filho. Em geral, ovacionado por muitos, este argumento corrobora com a expectativa de que todos os pais “amem” seus filhos incondicionalmente. Ok, que o amor seja o grande protagonista do psiquismo humano não se tem dúvidas. Desde que embarcamos em nossa viagem moderna ele já gerou um enorme acervo cultural que nos auxilia a elucidar nossos dramas e dilemas em torno de sua busca. Somos praticamente reféns do amor nessa incessante (e impossível) viagem para sermos únicos e especiais para alguém. E como um ideal, ele funciona legal ao nos proporcionar uma visão de vida, nos oferecer alguma remissão e um significado à nossa existência. São poucos os que não se declaram dependentes de um olhar amoroso, quando solicitam a um outro que respondam sobre sua importância. Uma aposta alta e por isso sempre acompanhada do medo do não, do abandono ou da traição. Sim, porque sabemos que o amor é o habitante principal da terra do romance, mas mesmo assim construímos pontes e acessos imaginários para a sua “posse” completa. Ao final, quando às duras penas e perdas podemos ajustar nossos olhares às suas cores pastéis, quando podemos passar deste lugar em que precisamos ser amados incondicionalmente para outro onde é necessário contar com o risco de não ser amado ou ser amado de forma diferente do que desejamos, é possível localizá-lo nos pequenos detalhes, nas trocas de olhares, nos pactos, nos sorrisos, na antecipação de certos desejos, na cumplicidade com as fragilidades, enfim, na responsabilidade com os cuidados e afetos que cada um (por sua conta e risco) se compromete a assumir. Nem um mar de alegrias sem fim, nem um lago escuro e gelado em que só habitem feras hostis. Mas pode ser uma razão para se viver. Como bem disse Renato Russo, “quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?”

Nenhum comentário:

Postar um comentário