sábado, 2 de julho de 2011

Aqui, ali, em todos os lugares

Uma amiga que há muitas décadas se ocupa em despertar os jovens para a importância de seu papel na escolha da profissão de educadores, constatava desanimada o aumento na porcentagem de evangélicos entre seus alunos, o que, segundo sua percepção, muitas vezes os impedia de se engajar em questões cruciais para o seu desenvolvimento pessoal e por decorrência, profissional. Perguntava-se por que, em um mundo tão mais livre, tão mais aberto ao debate e às inúmeras opções de escolhas para se viver, estes jovens universitários pareciam se “proteger” - atrás de crenças e práticas “sagradas” - de seus sentimentos morais, evitando todo e qualquer questionamento sobre si mesmo. Nesta semana em uma reportagem intitulada “a preguiça como profissão”, a Folha On line trazia depoimentos de jovens já formados, com domínio de uma ou mais línguas, com um currículo de viagens pelo mundo, mas que escolhiam ficar algum tempo sem trabalhar, à deriva pela internet com os amigos ou com os videogames, muitos com a anuência de seus pais. A frustração de minha amiga tinha um sentido especial para ela que viveu e lutou em sua juventude, contra uma civilização que impunha, entre outras coisas, limitações à exploração do corpo, do prazer, da criatividade. Da sua história pessoal ela guarda com orgulho um movimento de ruptura, um deslocamento de suas heranças familiares em direção ao futuro, oferecendo-se como elemento catalisador das novas tendências de sua época: mudar a si mesmo e ao mundo com seu desejo na carona da utopia de reinvenção da ordem social. Pensemos em como os jovens, hoje em dia, podem e devem escolher o que quiserem,seja em termos profissionais, amorosos ou em relação aos valores pessoais, assim como suas famílias são incitadas a deixá-los livres, não impondo sua própria referência. Há uma expectativa geral para que sejam felizes, bonitos, corpos perfeitos e saudáveis prontos a consumir os inúmeros e diversificados objetos oferecidos pelo mercado. Aqui e ali sabemos que alguns pais lamentam a falta de ideologias no mundo atual que tenham o mesmo apelo à participação no espaço político como em décadas anteriores. Mas a possibilidade dos jovens se “engajarem” no mundo em que vivem e inventarem seu futuro não está atrelada somente ao momento cultural. Em qualquer época, eles podem ser promessas de realização dos sonhos das gerações anteriores, rebeldes sem causa, alienados, podem causar medo ou incomodar ou ainda podem se assustar com o mundo que lhes espera. Em geral eles são tanto objetos de inveja quanto de temor, mas uma boa porcentagem fica capturada nos sonhos e desejos de felicidade absoluta de seus pais ou em seus pesadelos e desordem. Alguns privilegiados conseguem localizar onde está o impossível, o que está interditado e o que se faz impotente na cultura,e de alguma forma agem no sentido de provocar mudanças, mas todos, de uma maneira ou de outra, pedem que os escutemos, que possamos perceber seu vaivém entre a angústia e a depressão ou em suas tentativas de se defender de uma com a outra. A passagem para o mundo adulto com suas limitações sociais quase nunca é feita sem luta, sem transgressões. Por seu lado a multiplicidade de ilusões imaginárias que a cultura oferece vem colada a um excesso de exigências, mesmo que sob a forma de promessas de prazer e realização. Por isso é possível que muitos pais tendam a facilitar ao máximo a vida de seus filhos, e resistam a lhes impor restrições ou a discutir valores. Por outro lado, muitas religiões acenam com a possibilidade de regulamentação da vida através de sua fixidez de regras, o que alivia o desamparo - às vezes insuportável - de muitos jovens ( e de seus pais). Cada qual com seu preço.

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