quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Benvindos

O Brasil poderia ser comparado a um jovem e inquieto adulto que, na falta de boas referências que pudessem dar-lhe um contorno mais definido de sua identidade, estaria sempre em busca de confirmação sobre seus talentos e falhas, suas possibilidades e misérias. Quase todas as celebridades estrangeiras que aqui aportam são assediadas pela mídia para deixarem suas impressões, seja sobre as características mais marcantes de nosso povo e suas proezas, pelos contrastes sociais fartamente exibidos pelas nossas cidades, pelo funcionamento “caseiro” de nossa politica ou pela grandeza de nossos recursos naturais. No cômputo geral conseguimos impactar a maioria dos que nos visitam e não é raro ouvirmos alguns elogios a alguns destes itens. Claro que não podemos deixar de registrar as regras de boas maneiras exigidas para todo visitante. Que não se atrevam a melindrar seus anfitriões apontando-lhe falhas às vezes escancaradas. É de bom tom evitar constrangimentos e enaltecer nossas qualidades ou agradecer nossas gentilezas. Por isso chamou a atenção os comentários feitos por Alain de Botton em sua recente visita ao Brasil. Suíço de nascimento, mas na Inglaterra desde os 12 anos, ele é um dos filósofos mais pops da atualidade. Simpático, não se esquiva de quaisquer questionamentos que lhe sejam dirigidos ou que lhe imponham algum tipo de crítica ou avaliação. Convicto de que os saberes das humanidades precisam se aproximar da vida cotidiana de todos, versa com segurança sobre temas como o amor, a religião, o trabalho, a educação, a literatura, a arquitetura, a vida em sociedade e o significado da existência humana. Com respostas sempre à ponta da língua, rebate as críticas feitas ao estilo “autoajuda” de seus livros, lembrando que tal estilo de literatura sempre fez sucesso em tempos mais remotos, quando filósofos e pensadores em geral escreviam verdadeiros tratados para ajudar os indivíduos a se situarem melhor em suas vidas. Levando sua convicção às ultimas consequências em 2009 fundou em Londres a “The School of Life”, uma universidade voltada a todos os que desejam estudar “como viver” e que oferece possibilidade de se discutir temas como morte, casamento, escolha de profissão, ambição, criação de filhos. Temas que estariam hoje relegados a alguns gurus (segundo ele), mas que precisariam ser considerados com rigor e seriedade por sua importância na vida de todos. Por isso em sua escola é possível se inscrever em cursos como política, trabalho, família, amor, além de conversar com um terapeuta, aprender a fazer jardinagem, etc. Um claro desafio à educação vigente que estaria longe de valorizar as respostas para os grandes dilemas da vida. Durante o curto período em que aqui esteve - uma semana – com a finalidade de participar de conferências e lançamento de seu último livro, a cada cidade que visitava (São Paulo,  Porto Alegre e  Rio de Janeiro) o filósofo tuitava comentários (nem sempre lisonjeiros) de forma espontânea. Em uma de suas últimas entrevistas confessou estar com a impressão de que estava aqui há séculos, tamanho era o país e sua diversidade. A Inglaterra lhe parecia não só pequena como pacata. Sensível, detectou as diferenças entre as culturas de cada uma das cidades visitadas, e embora tivesse comparado Porto Alegre ao Texas, São Paulo a Nova York e o Rio de Janeiro a Los Angeles, não deixou de sublinhar as diferenças entre Brasil e EUA, principalmente na maneira como a religião aqui funcionaria de forma mais acolhedora e menos fundamentalista. Deixando-se afetar sem pré-conceitos, Alain de Botton pareceu aglutinar a inquietude de sua geração (tem 42 anos), mas mais que isso, despiu-se de qualquer arrogância intelectual sem cair na banalidade e sem perder o interesse e a curiosidade pelas vidas humanas em geral. De forma generosa, emprestou sua vitalidade e conhecimento em todas as pontuações que nos fez. Só nos resta dar-lhe as boas vindas!

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