Na Folha de SP do dia 11 de fevereiro, no caderno
Equilíbrio e Saúde, uma notícia divulgava o resultado de uma pesquisa feita por
professores de duas Universidades finlandesas que teriam selecionado 700
pessoas para tentar “mapear” as alterações físicas que cada emoção humana
provoca em nosso corpo. Para incita-las, foram usados palavras, músicas, filmes
e as alterações como dados possibilitaram a criação de um software que montou
um circuito para cada emoção, sendo a raiva, o medo, o desgosto, a felicidade,
a tristeza e a surpresa consideradas emoções básicas e a ansiedade, o amor, a
depressão e o orgulho suas correlatas. No final, comemorava-se o fato de serem
as emoções universais já que tanto o computador quanto as pessoas que
participaram reconheceram as emoções descritas e seus efeitos no corpo. É
verdade que mais do que em qualquer outra época, hoje podemos partilhar nossas
emoções apostando que nosso interlocutor entenderá nossa descrição sobre elas-
e seus efeitos físicos ou mentais- ainda que ele não esteja sentindo o mesmo
naquele instante. Ou seja, graças a um grande acervo construído culturalmente,
e muito alimentado pela literatura, cinema, TV, música, é fato consumado o uso
em expansão de descrições sobre o impacto do que nos acontece e como
expressamos através das emoções, nosso
repúdio ou nosso regozijo. Mas a verdade é que o modo como cada um se deixa
“afetar” pelas emoções, se pode ou não refletir sobre quais sentimentos cada
uma delas desperta em si, ou ainda reconhecer o quanto as alterações que elas
nos causam interferem na nossa visão sobre o mundo e as pessoas, não é nenhuma
tarefa simples ou fácil. Vejamos a polêmica sem fim que o aprisionamento de um
moleque de rua do Rio de Janeiro em um poste com um cadeado de bicicleta, sem
roupas, durante a madrugada causou. Há quase uma semana, repórteres, colunistas
e blogueiros tem se manifestado contra ou a favor. Do lado dos que repudiaram
os justiceiros cuja missão seria intimidar possíveis assaltantes nas ruas da
cidade do Rio de Janeiro, colocaram-se os que classificavam o ato como uma
violência excessiva, um jeito truculento de eliminar aquele “resto” humano que
perambula pela periferia da vida. Do lado dos que se solidarizaram ou ao menos se
sentiram vingados por todas as ameaças que sofrem em seu dia a dia, estavam
aqueles que se sentem inseguros e buscam ansiosamente indícios que possam
garantir um mundo sem violência. Se quisermos aproveitar os dados fornecidos
pela pesquisa citada acima, no primeiro caso, vigoram emoções como desgosto,
tristeza, surpresa, mas no segundo, o medo e a raiva são os destaques. Fica
fácil fazer um julgamento moral e classificar um ou outro lado como sendo o
correto. Parece que ambos os lados se posicionam acreditando que suas “emoções”
são legítimas e valem quanto pesam. Prefiro classificar, embora de forma
reducionista, ambas as partes como representantes de nossa humanidade. E é bom
que não nos esqueçamos do quanto o medo, considerada uma emoção básica na
pesquisa , está na base de muitas de nossas crenças e valores. Para o bem e
para o mal.
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