segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Emocionalmente humanos


Na Folha de SP do dia 11 de fevereiro, no caderno Equilíbrio e Saúde, uma notícia divulgava o resultado de uma pesquisa feita por professores de duas Universidades finlandesas que teriam selecionado 700 pessoas para tentar “mapear” as alterações físicas que cada emoção humana provoca em nosso corpo. Para incita-las, foram usados palavras, músicas, filmes e as alterações como dados possibilitaram a criação de um software que montou um circuito para cada emoção, sendo a raiva, o medo, o desgosto, a felicidade, a tristeza e a surpresa consideradas emoções básicas e a ansiedade, o amor, a depressão e o orgulho suas correlatas. No final, comemorava-se o fato de serem as emoções universais já que tanto o computador quanto as pessoas que participaram reconheceram as emoções descritas e seus efeitos no corpo. É verdade que mais do que em qualquer outra época, hoje podemos partilhar nossas emoções apostando que nosso interlocutor entenderá nossa descrição sobre elas- e seus efeitos físicos ou mentais- ainda que ele não esteja sentindo o mesmo naquele instante. Ou seja, graças a um grande acervo construído culturalmente, e muito alimentado pela literatura, cinema, TV, música, é fato consumado o uso em expansão de descrições sobre o impacto do que nos acontece e como expressamos  através das emoções, nosso repúdio ou nosso regozijo. Mas a verdade é que o modo como cada um se deixa “afetar” pelas emoções, se pode ou não refletir sobre quais sentimentos cada uma delas desperta em si, ou ainda reconhecer o quanto as alterações que elas nos causam interferem na nossa visão sobre o mundo e as pessoas, não é nenhuma tarefa simples ou fácil. Vejamos a polêmica sem fim que o aprisionamento de um moleque de rua do Rio de Janeiro em um poste com um cadeado de bicicleta, sem roupas, durante a madrugada causou. Há quase uma semana, repórteres, colunistas e blogueiros tem se manifestado contra ou a favor. Do lado dos que repudiaram os justiceiros cuja missão seria intimidar possíveis assaltantes nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, colocaram-se os que classificavam o ato como uma violência excessiva, um jeito truculento de eliminar aquele “resto” humano que perambula pela periferia da vida. Do lado dos que se solidarizaram ou ao menos se sentiram vingados por todas as ameaças que sofrem em seu dia a dia, estavam aqueles que se sentem inseguros e buscam ansiosamente indícios que possam garantir um mundo sem violência. Se quisermos aproveitar os dados fornecidos pela pesquisa citada acima, no primeiro caso, vigoram emoções como desgosto, tristeza, surpresa, mas no segundo, o medo e a raiva são os destaques. Fica fácil fazer um julgamento moral e classificar um ou outro lado como sendo o correto. Parece que ambos os lados se posicionam acreditando que suas “emoções” são legítimas e valem quanto pesam. Prefiro classificar, embora de forma reducionista, ambas as partes como representantes de nossa humanidade. E é bom que não nos esqueçamos do quanto o medo, considerada uma emoção básica na pesquisa , está na base de muitas de nossas crenças e valores. Para o bem e para o mal.  

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