terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Um menino tímido


Uma jovem amiga com quem trocava ideias sobre a árdua tarefa dos “meninos” na construção de uma imagem de si minimamente confortável para ser exibida entre seus pares, confessava sua aflição em relação ao filho de 20 anos. Tímido e solitário, apesar de ser portador de uma inteligência acima da média, ele oscilava constantemente seu estado de humor, ora atribuindo-o à sua escolha do curso universitário, ora ao próprio curso e seus alunos, ora à cidade, que lhe exige morar longe dos pais. Mantendo uma prática de conversas familiares exaustivas, no final ele concordava que sua timidez, ao mesmo tempo em que o protegia da convivência com toda a população universitária (colegas, professores, funcionários) o isolava, deixando-o sem saída. Tema de alguns textos que vez por outra a retomam como foco de atenção, a timidez como fator que pode obstruir e dificultar a vida de muitos que temem agir de forma ridícula ou inadequada na presença de outros, tem sido mais pesquisada recentemente sob o nome de fobia social, um novo transtorno reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que atinge 5% da população mundial. Em geral as pesquisas que são feitas em centros universitários, salvo algumas exceções, requerem classificações e resultados que possam ser facilmente compartilhados pelo mundo científico e afins. É verdade que a timidez não é um comportamento novo ou circunscrito ao mundo atual. Mas também é verdade que uma análise das patologias mentais não pode se furtar de investigar os modos como cada cultura constrói e organiza a vida subjetiva de seus indivíduos. Se no século passado esta análise privilegiava os conflitos internos e elegia a culpa como organizadora da vida subjetiva, responsável pelo descompasso entre o que se queria, o que se podia e o que se conseguia ser/ fazer, o mundo de hoje demanda uma exposição de si em busca do olhar de aprovação e reconhecimento do outro, que sendo necessário, é paradoxalmente desastroso, muitas vezes, para a construção de uma imagem de nós minimamente confiante. A origem destes sofrimentos situa-se em geral nos primórdios da vida e são as falhas e faltas nas relações com os cuidadores e com o ambiente que protagonizam as patologias. Quando não conseguimos construir defesas que nos protejam, é a vergonha que elegemos como um sentimento de inadequação geral. O olhar dos outros passa a ser temido e evitado, mas isso supõe um sofrimento já que não é possível existirmos sem a confirmação do olhar dos outros importantes, o que nos tornaria invisíveis. Se todos somos convocados a exibir nossa performance para entrar na roda da vida compartilhada, não é difícil imaginar o sofrimento dos que se sentem envergonhados por não acreditar que possam vir a ser reconhecidos como outro qualquer. Eles precisam de ajuda para criar uma narrativa de si e com alguma costura tornarem-se autor de sua historia, uma historia que minimamente lhes pareça valer a pena ser compartilhada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário