Uma jovem amiga com quem trocava ideias sobre a
árdua tarefa dos “meninos” na construção de uma imagem de si minimamente
confortável para ser exibida entre seus pares, confessava sua aflição em
relação ao filho de 20 anos. Tímido e solitário, apesar de ser portador de uma
inteligência acima da média, ele oscilava constantemente seu estado de humor,
ora atribuindo-o à sua escolha do curso universitário, ora ao próprio curso e
seus alunos, ora à cidade, que lhe exige morar longe dos pais. Mantendo uma
prática de conversas familiares exaustivas, no final ele concordava que sua
timidez, ao mesmo tempo em que o protegia da convivência com toda a população
universitária (colegas, professores, funcionários) o isolava, deixando-o sem
saída. Tema de alguns textos que vez por outra a retomam como foco de atenção,
a timidez como fator que pode obstruir e dificultar a vida de muitos que temem
agir
de forma ridícula ou inadequada na presença de outros, tem sido mais pesquisada
recentemente sob o nome de fobia social, um novo transtorno reconhecido pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) que atinge 5% da população mundial. Em geral
as pesquisas que são feitas em centros universitários, salvo algumas exceções, requerem
classificações e resultados que possam ser facilmente compartilhados pelo mundo
científico e afins. É verdade que a timidez não é um comportamento novo ou
circunscrito ao mundo atual. Mas também é verdade que uma análise das
patologias mentais não pode se furtar de investigar os modos como cada cultura
constrói e organiza a vida subjetiva de seus indivíduos. Se no século passado
esta análise privilegiava os conflitos internos e elegia a culpa como organizadora
da vida subjetiva, responsável pelo descompasso entre o que se queria, o que se
podia e o que se conseguia ser/ fazer, o mundo de hoje demanda uma exposição de
si em busca do olhar de aprovação e reconhecimento do outro, que sendo
necessário, é paradoxalmente desastroso, muitas vezes, para a construção de uma
imagem de nós minimamente confiante. A origem destes sofrimentos situa-se em
geral nos primórdios da vida e são as falhas e faltas nas relações com os
cuidadores e com o ambiente que protagonizam as patologias. Quando não
conseguimos construir defesas que nos protejam, é a vergonha que elegemos como
um sentimento de inadequação geral. O olhar dos outros passa a ser temido e
evitado, mas isso supõe um sofrimento já que não é possível existirmos sem a
confirmação do olhar dos outros importantes, o que nos tornaria invisíveis. Se
todos somos convocados a exibir nossa performance para entrar na roda da vida
compartilhada, não é difícil imaginar o sofrimento dos que se sentem
envergonhados por não acreditar que possam vir a ser reconhecidos como outro
qualquer. Eles precisam de ajuda para criar uma narrativa de si e com alguma
costura tornarem-se autor de sua historia, uma historia que minimamente lhes
pareça valer a pena ser compartilhada.
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