domingo, 14 de agosto de 2011

Ecos de uma morte anunciada


Não teria sido necessário ler os incontáveis textos escritos no pós morte de Amy Winehouse. Bastava escutar os comentários: homens e mulheres, jovens, adultos e velhos, todos tinham algo a dizer sobre esta moça inglesa, judia e tão nova, cuja linda voz ecoava longe, mas não parecia se importar em ser noticia permanente da mídia que explora o lado “B” da vida alheia, no seu caso, o lado negro e árido dos que tentam sobreviver às duras penas, anestesiando-se até a morte, já que o que chamamos de “vida” parece- lhes acenar com demandas impossíveis de serem cumpridas. Houve os que se chocaram e lamentaram a rapidez com que esta menina se foi, os que confessaram ser sua morte inevitável diante das idas e vindas do uso de álcool e drogas, os que fizeram piada de sua vida desregrada e os que se aproveitaram para usá-la como exemplo do que não se deve ser ou fazer. Assim também eram as imagens divulgadas sobre sua vida: ora a mocinha provinciana que frequentava pubs londrinos com amigos e ressuscitava a soul music com sua voz poderosa, ora a cantora famosa que fazia muitos de seus shows totalmente alcoolizada ou drogada. Algum consenso? Talvez o adjetivo excessivo, para o bem e para o mal.
Figura alternativa, com dezenas de tatuagens e penteados exagerados, Amy mostrava um talento exuberante ao inundar os ouvidos dos loucos por uma boa musica e surpreendia pela indiferença com que encarava a exploração da mídia sobre sua vida errante. Deixava-se fotografar em condições físicas precárias, às vezes exibindo seu corpo emagrecido ou assumindo um ar de franca rebeldia com cigarros na boca, copos e garrafas na mão. Resta deixar de lado os voyeurs de plantão, e acompanhar seus inúmeros fãs que souberam homenageá-la, respeitando seu universo controverso cujo percurso fazia o roteiro oposto da cartilha que todos seguimos a fim de alongarmos cada vez mais nossas vidas. Perplexos, não desejavam sua morte e exibiram uma comoção sincera quem sabe por acompanharem de perto o tormento de sua vida exposto na maior parte de suas  composições. Muitos cantaram no mesmo tom de sua dor ou de seus pedidos de amor. Outros se perguntaram mais de uma vez se sua música poderia salvá-la de seu inferno. Quem sabe desconfiassem que suas canções tentavam de forma intuitiva (e desesperada) dar  sentido ao que em sua vida  lhe parecia sem sentido.

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