sexta-feira, 22 de abril de 2011

Amores e suas dores - parte IV

Perguntava-se por que raios “dor de cotovelo” ora era utilizado para explicar quando alguém era flagrado sentindo ciúme/despeito/ inveja, ora para descrever aquela avalanche que ela estava vivendo: ser trocada por outra. A versão oficial parecia querer reduzir a expressão ao fato do cotovelo humano ser frágil e vulnerável e por isso, sujeito a fortes dores quando atingido, tal e qual a invasão na alma destes sentimentos insuportáveis. Mas preferia imaginar que as dores dos cotovelos fossem provocadas por uma posição prolongada destes na tentativa de suportar cabeças desoladas, arregaçadas, desesperadas. Era assim que ela se sentia. Não por acaso todos (mas principalmente as mulheres) se mostravam solidários ao seu sofrimento. Nenhuma pronunciava palavras, mas o olhar compassivo denunciava um reconhecimento do terreno. Embora lindas, livres, produtivas e sedutoras, as mulheres estariam condenadas a perder seu chão diante de uma ruptura amorosa em que a “terceira”, a “outra” ocupasse o que até bem pouco era seu território exclusivo, com direito a placa e nome. Luxo, ideologia, crenças e aspirações ficariam depostos para que o vazio se estendesse a cada célula do corpo, um vazio devorador, que somente o calor do corpo “dele” seria capaz de preencher. Hora de acionar todas as armas da insistência: mensagens, bilhetes, e-mails, telefonemas, “DRs” a serviço do resgate do fio da meada. Quem sabe apertar a tecla “reward” na esperança de recompor um passado que evitasse tal presente e mantivesse o futuro ansiado. Ah o ciúme, esta emoção intensa e perturbadora, velha conhecida dos amantes e daqueles que escrevem sobre o amor, motivo de muitos crimes passionais e de intrigas amorosas! Um misto de pesar e sofrimento pela perda do amado, um rombo na auto-estima, e um ódio e inveja inimagináveis pela perversa e bem sucedida rival. O que esta “outra” teria que ela não tivesse? O que ele viu nela que lhe falta? Inicia-se a viagem de busca dos indícios, cabelos, marcas, estilos, sorrisos, testemunhas mudas, mas irrefutáveis. A “outra” é esta culpada, mas isso só aumenta a dor ressentida de se crer que o amor “dele” está perdido. Na impossibilidade de administrar a própria crítica resta se responsabilizar pelo insucesso, revolver o entulho mais recôndito de sua própria alma, denunciar suas leviandades e seus equívocos. Menosprezar-se, desvalorizar-se e penalizar-se pela preciosa perda. Mas o desvario não termina. Na etapa seguinte é “Ele” o alvo antes preservado. De culpada à vítima, ela exibe a todos o currículo impecável de sua vida amorosa, faz e refaz a contabilidade conjunta e tenta se convencer de seus créditos. Ele não a merece. Ódio, ódio, ódio! Não vai demorar e ele perceberá o erro. Aí será tarde. Ela já não poderá perdoá-lo, já não estará disponível porque a vida continua, a fila anda. Só que deveria andar mais rápido, demorar menos tempo neste tempo que não passa e que ultrapassa qualquer chance de esquecer Ele, de sofrer sem parar. Chega! Quer evitar que o ciclo se reinicie. Está tão exausta e sem forças que só lhe resta ansiar que o futuro sem ele chegue mais rápido. Sem ele tão vivo nas lembranças que brotam sem parar.

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