sexta-feira, 22 de abril de 2011

Espaço “DR” para os homens

O canal pago GNT divulgou em nota recente que está gestando – com previsão para início do segundo semestre deste ano- um programa masculino inspirado na fórmula de seu bem sucedido (e feminino) “Saia Justa”. Apelidado interinamente de “DR” – uma referencia à eterna proposta feminina de discussão da relação amorosa – ao que parece o programa busca refletir sobre a masculinidade e suas novas questões. Composto somente por homens lembra um moderno “Banquete” nos moldes daquele descrito por Platão, em plena vigência e efervescência das idéias da Grécia Antiga. E não se pode deixar de reverenciar tal tipo de iniciativa sem computar as mudanças ocorridas nas últimas décadas, com suas profundas alterações nas relações entre homens e mulheres. Todos hão de concordar que um espaço na programação da mídia voltado inteiramente para se discutir o amplo espectro de tipos masculinos da atualidade às voltas com seus dilemas, incertezas e inseguranças seria, no mínimo, uma cena impossível nos dois séculos que nos antecedem. Pensemos em algumas razões. Nestas sociedades tradicionais, os moldes eram “justos” e a todos restava tentar “vesti-los”. Ser mulher significava ser esposa e mãe. Do homem era esperado que se casasse - por escolha dos pais ou por amor - e assumisse a função de provedor e chefe da família,concedendo um nome (e um lugar) social à mulher e aos filhos. No decorrer do século 20 e já no século 21, tal rigidez foi questionada e o principal alvo foi a sexualidade. Os mitos e tabus que rondavam o feminino e o masculino e buscavam ordenar o que escapava ao “explicável”, tiveram que ser renovados. Estamos falando dos mecanismos de controle do prazer e da violência (o que se permite e o que se proíbe) que a cultura não pode cessar de produzir, mas que estão permanentemente sujeitos aos questionamentos que ela própria faz sobre eles. São estas normas que orientam o acesso ao corpo e ao sexo e assim dão direção às existências, produzem diferenças de sensibilidades, de itinerários e de aspirações. Por quê? O fator que impõe as mudanças e ao mesmo tempo as rejeita, temendo suas conseqüências, é a singularidade da sexualidade humana com seu quantum de prazer (ou de dor) regido pela fantasia. Nossa sexualidade é mais jogo do que técnica e as fantasias fazem parte deste jogo: são elas as responsáveis por nosso erotismo, que empresta o colorido às nossas vidas sexuais. O feminino ou o masculino é construído desde o nosso nascimento, sob o impacto de fortes emoções e grandes conflitos e embora o corpo biológico (a anatomia) indique um caminho, são gerados na experiência. Sob os olhares temerosos de muitos e bastante dúvidas de todos, homens e mulheres buscam hoje construir novos lugares sociais, que lhes ofereçam orientações e dicas sobre o que e como viver suas vidas amorosas, sobre o que “elas” esperam deles e o que “eles” querem delas. Sem matrizes e regras de como abordar o “outro”, como ser “masculino” ou ‘feminino”,resta-nos assumir nossas inseguranças, falta de certezas e fragilidades. Ponto para estes espaços da cultura que visam ampliar nossas referencias

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