sexta-feira, 22 de abril de 2011

Terremotos, tsunamis, enchentes

Pode-se dizer que nos últimos dois anos fomos surpreendidos com a força devastadora de alguns fenômenos naturais como o terremoto em Haiti, as enchentes na região serrana do Rio de Janeiro e mais recente o tsunami e terremoto no Japão. As imagens que nos chegam destas tragédias não deixam dúvidas sobre a nossa fragilidade diante destas poderosas e inesperadas “re-ações” da natureza. Por algum tempo nossa aldeia global parece assumir uma dimensão frágil, de pouco poder diante de certas tensões que a ultrapassam e nós, seus habitantes, podemos ser comparados aquelas miniaturas infantis que sucumbem ou não ao bel prazer de seus pequenos donos. Valemos pouco e podemos sumir em grande quantidade sem que nada possamos fazer. É a assunção de nossa impotência diante da morte que não podemos prever antecipar ou evitar. Em geral estas catástrofes mobilizam uma ampla rede de pessoas, instituições e nações para constituir uma ajuda efetiva. A comoção é geral e a maioria se sente afetado. A mídia se divide entre as imagens das conseqüências e das providencias de reconstrução e ajuda que são gestadas. Abre-se espaço para a valorização do humanitarismo, com ênfase na solidariedade e surgem perguntas antigas: o que faz com que tantos passem a se preocupar e a se ocupar em ajudar outras pessoas, às vezes sacrificando seus próprios interesses? Quem ou quais culturas são mais sensíveis ao sofrimento humano? Biólogos, sociólogos, psicólogos são chamados a contribuir para elucidar as condições em que os interesses de um grupo podem suplantar as do individuo. Afinal, somos egoístas ou altruístas “por natureza”? Se não, como podemos “despertar” a empatia, o sentimento de compaixão pelo outro, ou seja, como esperar que se possa agir de maneira “nobre” diante de situações que nos lembrem nossa vulnerável (e semelhante) condição de ser vivente? A verdade é que tais questões não são nada fáceis de serem respondidas e o contraponto delas é a possibilidade de sermos violentos ao limite de matarmos uns aos outros. As guerras e confrontos entre povos podem mudar de cara, mas são recorrentes. Em uma cena do filme indicado e recém premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro (Em um mundo melhor /2010/ Suecia/Dinamarca) um adulto tenta dar um sentido para a morte (por câncer) da mãe de um menino de 12 anos, que desde então está cheio de ódio, inconformado com tal perda. Explica ao jovenzinho que enquanto vivemos, colocamos um “véu” sobre a morte. Quando este véu é arrancado (por diferentes imposições do destino), ficamos frente a frente com ela, insuportável. Depois voltamos a colocar o véu e assim podemos seguir vivendo. Não por acaso não podemos produzir representações para a morte. Ela é o nosso fim. Por isso a cultura sempre se empenhou em construir um campo de significações através de mitos e religiões que nos ajudassem com seus ritos e crenças sobre a morte e o pós- morte. Com certeza a sensação de pertencer solidamente a um grupo ou um coletivo pode servir de esteio contra tanto desamparo. Mas temos que conviver com o fato de nossa experiência coletiva ser marcada de forma ambivalente por nossa potencia destruidora ainda que estejamos sempre em busca de novos modos de repará-la.

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