sexta-feira, 22 de abril de 2011

Mundo das celebridades

Na cena inicial do filme VIPs, o ator Wagner Moura dirige um helicóptero que está prestes a pousar em um resort paradisíaco. Seu olhar se fixa na piscina cheia de lindas mulheres em um misto de excitação e alegria enquanto os hóspedes se agitam curiosos para descobrir a identidade do visitante. Somos convidados a entrar no clima de glamour que envolve as celebridades, sejam atores , cantores, grandes empresários ou políticos, um mundo do reconhecimento midiático, em que os personagens e as alegorias colocadas em cena não deixam dúvidas de que o espetáculo fascina a todos. Ele desce da sua nave com dois seguranças e não titubeia: em um lance performático identifica-se como Henrique Constantino, herdeiro da companhia aérea Gol. Baseado no livro “Vips – Histórias Reais de um Mentiroso”, de Mariana Caltabiano, apesar de pretender contar a trajetória de Marcelo Nascimento Rocha, atualmente preso na Penitenciária Central de Cuiabá, o filme não é sobre o mundo do crime, mas sobre o mundo demasiado humano de um rapaz que desde a sua adolescência assume inúmeras identidades para conseguir seus propósitos. Um psicopata? Um exibicionista em busca de fama rápida? Um golpista esperto e talentoso? O diretor Toniko Mello prefere vasculhar livremente seu personagem. Mantém como fio condutor os fatos narrados no livro, mas coloca o foco na construção identitária deste verdadeiro “ator”. Talvez a cena mais paradigmática seja a que indica quão invertidas são as regras e normas que permeiam o mundo de excessos “permitidos” das celebridades, quando Marcelo, ao se passar pelo filho do dono da Gol, é automaticamente transformado em convidado VIP (very important people) e durante quatro dias - hóspede de um dos resorts mais caros de Pernambuco - é paparicado por ricos e famosos, paquerado por mulheres, entrevistado por Amaury Jr., fotografado para colunas sociais. Todos passam a querer ser íntimos e oferecer favores com o intuito claro de se beneficiarem de alguma troca futura. Não há espaço para pensamentos, argumentos, críticas, escolhas. Como um mundo à parte, as normas, costumes e leis utilizadas por todos na manutenção do convívio no cotidiano, podem ali serem violadas, transgredidas. Mas tudo tem limites. É por insistir em ultrapassar a fronteira interditada que Marcelo ganha uma outra notoriedade, a negativa. Em entrevista recente à Revista Trip na prisão, duas questões rondavam a pauta dos repórteres. Na primeira percebia-se uma aguçada curiosidade sobre seus primeiros golpes (as origens) e as motivações destes ( causas); no final era incitado a responder sobre um possível arrependimento. Haveria chances (metas) dele se reabilitar moralmente? Provavelmente tais questões estariam a serviço de um divisor de águas entre a tietagem e a condenação já que não escondem a expectativa de que ele possa reconhecer o “uso” impróprio do “outro” e, ao invés de se comprazer deste feito com delírios de grandeza, aceitar que sua liberdade, como a de todos, tem limites. Ou seja, que embora a cultura atual faça um convite permanente para que ninguém renuncie às suas satisfações, caberia a cada um (desde as interdições parentais) poder escapar do desejo de ser/ter tudo. Entre a loucura que coloca o sujeito à margem da sociedade e as mazelas de todos nós, neuróticos, há os que ficam encima do muro - os “perversos”- que longe de serem “maus” ou pregressos escolhem não entrar no espaço das disputas, negociações, renúncias ao não se submeterem às leis necessárias para serem parte do todo. Vivem, por isso, um mundinho à parte, meio cínico, alienador, muito solitário e aprisionante, mas possivelmente próximo do mundinho das celebridades.
Para conferir:
Título : VIPs 2011 (Brasil, EUA)
Direção: Toniko Melo
Atores: Wagner Moura, Gisele Fróes, Juliano Cazarré, Jorge D'Elia.

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