quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Mundo em (R)evolução?


Estávamos em um grupo que conversava sobre o evento, minutos antes que o palestrante entrasse para a sua conferencia. Físico bastante conhecido por divulgar suas ideias na mídia, perguntei-lhe porque alguns de seus colegas deixavam a profissão e tornavam-se uma espécie de pensadores a questionar o mundo e seus rumos. Com um sorriso irônico comentou que, ao longo de suas carreiras muitos físicos transformavam-se em filósofos medíocres. Não era o seu caso, pensei. E de certa maneira sua palestra respondia minha questão. Para encerrar o FDC Experience, um evento que pretendia mesclar arte, história e cultura e discutir as inter-relações entre gestão e brasilidade com o intuito de refletir sobre modelos futuros de gestão, ele havia escolhido falar sobre a importância da consciência de nossa insignificância. Apresentando-nos o universo espacial com suas milhares de galáxias e a nossa (Via Láctea) a qual pertence a Terra, o Sol e a Lua - tão reverenciados pelos inúmeros mitos de nossas origens- fomos sendo submetidos a esta nua e crua realidade. Graças ao acaso circunstancial da localização precisa entre o planeta Terra e sua “boa” estrela, o Sol, teria sido possível haver vida (e continuar havendo), ao podermos desfrutar de luz, de agua, de ar (oxigênio). O universo galáctico teria suas próprias leis de funcionamento, incontáveis estrelas que nascem vivem e morrem, muitas galáxias em formato de espiral cujo “ralo” seria um buraco negro “aspirador” e a ciência – leia-se todo o conhecimento produzido por nós, humanos  -  não desistiria de vasculhar sinais de vida inteligente (ainda não encontrados) ou indícios do tempo de vida restante de nosso planeta que depende de seu sol. No cálculo aproximado da formação deste imenso universo, a vida seria recente, mas decididamente não somos e nunca fomos o centro do universo. E se na foto de uma galáxia mal delineamos os pontinhos que comprovam a existência das estrelas e dos planetas, fica claro que não estamos nela. Não. O propósito estava longe de ser apocalíptico. Era sim um convite a reflexão, ao papel – a responsabilidade - que cada um teria sobre sua vida e a dos outros do planeta. Um convite a repensar os rumos de um mundo que nos pertence. Para uma plateia composta principalmente por gestores e empreendedores cujo futuro precisa estar planejado e os resultados necessitam acontecer em curto prazo, nada mais angustiante, ainda mais quando imersos em um sistema que premia a competividade, modelo pouco produtivo para um trabalho conjunto. E se a nossa foto de consumidores - comendo, bebendo, comprando, acumulando e trocando - já começa a apresentar sinais de um amarelo envelhecido, o futuro anuncia a importância do “ser humano”. Um ser humano que urge tomar para si as rédeas de sua vida sem se esquecer de que há outros ao seu redor. Que precisa inventar uma vida que não gire somente em volta de si ou da família, mas inclua a comunidade, o coletivo. Palavras fortes, comoventes até, mas distantes desta realidade e difíceis de serem administradas, pois portam o desafio da convivência com a diferença - racial, étnica, religiosa ou econômica – e impõem pensar um modo pelo qual pessoas diferentes umas das outras se relacionariam nas cidades e nas empresas, garantindo sua qualidade de vida em um modelo de cooperação. Otimista demais? Como lidar com o fato de se precisar de pessoas com as quais não se está conectado intimamente, as quais não se conhece bem ou não se goste? Quais as chances de nos tornarmos um “ser humano” mais preparado para esta vida adulta e complexa em que a confiança, algo intangível seria o combustível da vez? Questões que não só os físicos e os gestores se ocupam hoje, mas que parecem convocar todas as disciplinas a ultrapassarem suas fronteiras para pensarem o futuro deste “ser humano”.

 

 

 

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