Estávamos em um grupo que
conversava sobre o evento, minutos antes que o palestrante entrasse para a sua
conferencia. Físico bastante conhecido por divulgar suas ideias na mídia,
perguntei-lhe porque alguns de seus colegas deixavam a profissão e tornavam-se uma
espécie de pensadores a questionar o mundo e seus rumos. Com um sorriso irônico
comentou que, ao longo de suas carreiras muitos físicos transformavam-se em
filósofos medíocres. Não era o seu caso, pensei. E de certa maneira sua
palestra respondia minha questão. Para encerrar o FDC Experience, um evento que
pretendia mesclar arte, história e cultura e discutir as inter-relações entre
gestão e brasilidade com o intuito de refletir sobre modelos futuros de gestão,
ele havia escolhido falar sobre a importância da consciência de nossa
insignificância. Apresentando-nos o universo espacial com suas milhares de
galáxias e a nossa (Via Láctea) a qual pertence a Terra, o Sol e a Lua - tão
reverenciados pelos inúmeros mitos de nossas origens- fomos sendo submetidos a
esta nua e crua realidade. Graças ao acaso circunstancial da localização
precisa entre o planeta Terra e sua “boa” estrela, o Sol, teria sido possível
haver vida (e continuar havendo), ao podermos desfrutar de luz, de agua, de ar
(oxigênio). O universo galáctico teria suas próprias leis de funcionamento,
incontáveis estrelas que nascem vivem e morrem, muitas galáxias em formato de
espiral cujo “ralo” seria um buraco negro “aspirador” e a ciência – leia-se
todo o conhecimento produzido por nós, humanos
- não desistiria de vasculhar
sinais de vida inteligente (ainda não encontrados) ou indícios do tempo de vida
restante de nosso planeta que depende de seu sol. No cálculo aproximado da
formação deste imenso universo, a vida seria recente, mas decididamente não somos
e nunca fomos o centro do universo. E se na foto de uma galáxia mal delineamos
os pontinhos que comprovam a existência das estrelas e dos planetas, fica claro
que não estamos nela. Não. O propósito estava longe de ser apocalíptico. Era
sim um convite a reflexão, ao papel – a responsabilidade - que cada um teria
sobre sua vida e a dos outros do planeta. Um convite a repensar os rumos de um
mundo que nos pertence. Para uma plateia composta principalmente por gestores e
empreendedores cujo futuro precisa estar planejado e os resultados necessitam
acontecer em curto prazo, nada mais angustiante, ainda mais quando imersos em
um sistema que premia a competividade, modelo pouco produtivo para um trabalho
conjunto. E se a nossa foto de consumidores - comendo, bebendo, comprando,
acumulando e trocando - já começa a apresentar sinais de um amarelo envelhecido,
o futuro anuncia a importância do “ser humano”. Um ser humano que urge tomar
para si as rédeas de sua vida sem se esquecer de que há outros ao seu redor.
Que precisa inventar uma vida que não gire somente em volta de si ou da
família, mas inclua a comunidade, o coletivo. Palavras fortes, comoventes até,
mas distantes desta realidade e difíceis de serem administradas, pois portam o
desafio da convivência com a diferença - racial, étnica, religiosa ou econômica
– e impõem pensar um modo pelo qual pessoas diferentes umas das outras se
relacionariam nas cidades e nas empresas, garantindo sua qualidade de vida em
um modelo de cooperação. Otimista demais? Como lidar com o fato de se precisar
de pessoas com as quais não se está conectado intimamente, as quais não se
conhece bem ou não se goste? Quais as chances de nos tornarmos um “ser humano” mais
preparado para esta vida adulta e complexa em que a confiança, algo intangível
seria o combustível da vez? Questões que não só os físicos e os gestores se
ocupam hoje, mas que parecem convocar todas as disciplinas a ultrapassarem suas
fronteiras para pensarem o futuro deste “ser humano”.
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