quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Próxima parada: Rio 2016


No último dia 5 de agosto no caderno Ilustríssima da Folha de SP o chinês Ai Weiwei, artista engajado de seu país, escrevia um texto ainda sob o impacto da cerimonia de abertura das Olimpíadas de Londres. Crítico, comparava-a com a pompa apresentada em Pequim 2008, que segundo ele, tinha de tudo, menos um sentimento de autenticidade do povo chinês. Na contramão das críticas de muitos sobre o que acharam ser britânica demais para o restante do mundo, Weiwei proclamou a inglesa de festa de verdade, que refletia sua sociedade civil, sua gente, seus valores, sua história, da rainha à enfermeira. Sem esconder uma admiração invejosa, destacou o fato de ser a Inglaterra uma nação de indivíduos e não de um (único) partido. Concordei (meio secretamente) com ele. Em meio a alguns que torciam o nariz para a cerimonia de encerramento que aconteceu no domingo, 12 de agosto - que de certa maneira completava a da abertura - fui tomada pela emoção quando vi surgir na tela, ícones importantes de minha geração. O que podia ser considerado brega e clichê me parecia uma ideia honesta e simples que agradava e muito ao público presente. Em um mundo em que a tecnologia pode fabricar efeitos especiais de tirar o fôlego de qualquer cidadão, a Inglaterra com sua tradição de peso inquestionável escolhia apresentar sua cultura de forma singela e alegre. Tal e qual uma grande festa musical, o que se via era um verdadeiro desfile do cancioneiro pop britânico com grande parte de seus  símbolos de ontem e hoje juntos. George Michael, Annie Lennox, Pink Floyd, Spice Girls, The Who, Queen, Oasis foram alguns que surgiram acompanhados dos quase quatro mil voluntários que se dispuseram a cantar e dançar. Lá pelas tantas, imagens de John Lennon, depois de Freddie Mercury, projetadas no telão levavam a plateia ao delírio. Nem mesmo o peculiar humor inglês ficou fora, representado por Eric Idle, do Monty Python. A boa música produzida pelos ingleses e dirigida principalmente aos jovens foi escolhida para brilhar naquele encerramento. Para nós brasileiros, o final daquela cerimonia significava o passe do bastão: - Agora é de vocês, sua hora de preparar a cidade e organizar a “infra” para poder acolher e receber com dignidade os mais de dez mil atletas e os milhares de turistas que prestigiam esta festa esportiva. Uma festa que graças aos novos recursos de comunicação parece estar sendo realizada logo ali, ao lado da casa de cada um. Que ao longo dos séculos em que se repete guarda um desejo humano de superação de limites físicos e mentais de corpos. Que pela primeira vez apresentou atletas de ambos os sexos de todos os países participantes. Que ousou mandar para casa os atletas que não compreenderam o sentido da “reunião” de povos e, portanto da convivência com a diversidade, com o estrangeiro. Que apostou, em sua organização, na “inspiração” que legaria às futuras gerações. Um modelito que poderia ser levado em consideração pelos brasileiros que se ocuparão da organização da próxima olimpíada. No entanto, numa visada geral, não são poucos os brasileiros que andam antecipando seu sentimento de vergonha para os possíveis furos de nossa hospedagem. Este mesmo ceticismo surpreendeu o governo federal que imaginava uma grande mobilização pública em torno do tão esperado julgamento do Mensalão. Em uma recente reportagem jornalística as câmeras mostravam o pátio da Esplanada vazio e nem todas as cadeiras reservadas aos interessados ocupadas. Esta é talvez a grande e nefasta consequência de episódios não transparentes em seus custos e processos, que além de não produzirem benefícios para a população, engordam os bolsos de políticos e empresários gulosos. Se a organização de um grande evento como as Olimpíadas é sempre uma preocupação para qualquer país que a realize, fica para cada um de nós, cidadãos brasileiros a tarefa de encontrar modos que nos ajudem a prevenir (ou alardear) a corrupção que em geral se associa a isso. Alguma ideia?

Nenhum comentário:

Postar um comentário