No último
dia 5 de agosto no caderno Ilustríssima da Folha de SP o chinês Ai Weiwei, artista
engajado de seu país, escrevia um texto ainda sob o impacto da cerimonia de
abertura das Olimpíadas de Londres. Crítico, comparava-a com a pompa apresentada
em Pequim 2008, que segundo ele, tinha de tudo, menos um sentimento de
autenticidade do povo chinês. Na contramão das críticas de muitos sobre o que acharam
ser britânica demais para o restante do mundo, Weiwei proclamou a inglesa de
festa de verdade, que refletia sua sociedade civil, sua gente, seus valores,
sua história, da rainha à enfermeira. Sem esconder uma admiração invejosa,
destacou o fato de ser a Inglaterra uma nação de indivíduos e não de um (único)
partido. Concordei (meio secretamente) com ele. Em meio a alguns que torciam o
nariz para a cerimonia de encerramento que aconteceu no domingo, 12 de agosto -
que de certa maneira completava a da abertura - fui tomada pela emoção quando
vi surgir na tela, ícones importantes de minha geração. O que podia ser
considerado brega e clichê me parecia uma ideia honesta e simples que agradava
e muito ao público presente. Em um mundo em que a tecnologia pode fabricar
efeitos especiais de tirar o fôlego de qualquer cidadão, a Inglaterra com sua
tradição de peso inquestionável escolhia apresentar sua cultura de forma
singela e alegre. Tal e qual uma grande festa musical, o que se via era um
verdadeiro desfile do cancioneiro pop britânico com grande parte de seus símbolos de ontem e hoje juntos. George
Michael, Annie Lennox, Pink Floyd, Spice Girls, The Who, Queen, Oasis foram
alguns que surgiram acompanhados dos quase quatro mil voluntários que se
dispuseram a cantar e dançar. Lá pelas tantas, imagens de John Lennon, depois de
Freddie Mercury, projetadas no telão levavam a plateia ao delírio. Nem mesmo o
peculiar humor inglês ficou fora, representado por Eric Idle, do Monty Python. A
boa música produzida pelos ingleses e dirigida principalmente aos jovens foi
escolhida para brilhar naquele encerramento. Para nós brasileiros, o final
daquela cerimonia significava o passe do bastão: - Agora é de vocês, sua hora
de preparar a cidade e organizar a “infra” para poder acolher e receber com
dignidade os mais de dez mil atletas e os milhares de turistas que prestigiam
esta festa esportiva. Uma festa que graças aos novos recursos de comunicação
parece estar sendo realizada logo ali, ao lado da casa de cada um. Que ao longo
dos séculos em que se repete guarda um desejo humano de superação de limites
físicos e mentais de corpos. Que pela primeira vez apresentou atletas de ambos
os sexos de todos os países participantes. Que ousou mandar para casa os
atletas que não compreenderam o sentido da “reunião” de povos e, portanto da
convivência com a diversidade, com o estrangeiro. Que apostou, em sua
organização, na “inspiração” que legaria às futuras gerações. Um modelito que
poderia ser levado em consideração pelos brasileiros que se ocuparão da
organização da próxima olimpíada. No entanto, numa visada geral, não são poucos
os brasileiros que andam antecipando seu sentimento de vergonha para os
possíveis furos de nossa hospedagem. Este mesmo ceticismo surpreendeu o governo
federal que imaginava uma grande mobilização pública em torno do tão esperado julgamento
do Mensalão. Em uma recente reportagem jornalística as câmeras mostravam o
pátio da Esplanada vazio e nem todas as cadeiras reservadas aos interessados ocupadas.
Esta é talvez a grande e nefasta consequência de episódios não transparentes em
seus custos e processos, que além de não produzirem benefícios para a
população, engordam os bolsos de políticos e empresários gulosos. Se a
organização de um grande evento como as Olimpíadas é sempre uma preocupação
para qualquer país que a realize, fica para cada um de nós, cidadãos
brasileiros a tarefa de encontrar modos que nos ajudem a prevenir (ou alardear)
a corrupção que em geral se associa a isso. Alguma ideia?
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