quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Sãos e insanos medos


Ano passado, ainda sob o impacto da fantástica ascensão da rede social Facebook, um programa de TV, atrás de respostas para tanto sucesso, entrevistava uma das jovens responsáveis pela equipe que alimentava a empresa com “boas ideias”. Na tentativa de responder ao repórter sobre o processo de criação ou mais propriamente de reflexão sobre os anseios e preocupações da nova geração, ela citava dois slogans considerados pontos de partida: não ficar siderado pela utopia da perfeição e forçar uma ultrapassagem pela barreira do medo. Em resumo, se o feito é melhor que o perfeito, o que você faria se não tivesse medo? Embora panfletária e charmosa, a frase bordeava alguns dos dilemas de novas gerações, sempre às voltas com a dupla liberdade X segurança. Um deles seria o medo. Não o que comanda o mantra que as gerações anteriores costumam rezar sempre que percebem não terem mais à mão as antigas referencias para as suas vidas, mas um medo de ordem mais endêmica, mais visceral. Generalizado, como diria uma jovem amiga. Convicta de que as ameaças para a existência humana eram mais óbvias, os perigos mais reais e havia menos mistérios sobre o que fazer para aliviá-los, acha que os riscos de hoje são mais incertos, o que causaria muita insegurança e uma busca sem fim por segurança e estabilidade. Assim se situa. Os estilos de vida, crenças e convicções estariam mudando rapidamente antes de terem tempo de se solidificar em costumes, hábitos e verdades o que contribuiria para que os empregos e os relacionamentos em geral parecessem voláteis. Engenheira de produção, minha aflita amiga também discorria sobre o panorama das empresas nas quais trabalha que exigem competência, desempenho competitivo, iniciativa e autonomia e nem sempre oferecem as antigas garantias de leis trabalhistas. Ao invés disso, incentivam o mercado da subjetividade em que cada um pode ser medido como “looser” ou  “winner” conforme se adapte ou não profissional e financeiramente aos seus valores. E para os que se sentem meio perdidos, que busquem ajuda dos novos especialistas, os “coach”. É verdade que desde que a vida humana passou a ser regulada pela tecnologia e a busca da felicidade passou a fazer parte do avanço biotecnológico, todos precisam de força, memória, atividade. Sai o regime das certezas, abre-se o da multiplicidade, grande fonte de angustia. Tudo é temporário. O surpreendente é que minha amiga, longe de fechar suas questões e transforma-las em verdades, avaliava-as sob o prisma de sua geração, que não possuiria o mesmo preparo que a de seu irmão mais novo, por exemplo. Ele já pertenceria à geração Z (de zapear) um nativo digital que, segundo ela, teme menos esse futuro, gosta das provocações e encara com bom humor a falta de certezas e heróis. Age como se fosse natural sermos todos pessoas comuns, não se impressiona com o excesso de informações que precisa filtrar e parece usufruir mais os benefícios do que os riscos da evolução tecnológica. Nas redes sociais sabe cultivar os laços e obter benesses do espaço de trocas, acolhimento e solidariedade. Confiança necessária para o tipo de trabalho que faz em que as pessoas se organizam em clusters ou em outras formas de cooperação. Ela se aflige quando percebe que nestas poucas décadas, o futuro que levava séculos para chegar, depois 100 anos, 50 e agora mal cumpre os 5 anos, nem lhe deixa espaço para um respirar aliviada. Já seu irmão deve saber que vive no futuro, um futuro cada vez mais focado no intangível. Se ele tem medo? Com certeza, de outras coisas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário