quarta-feira, 1 de julho de 2009

As mulheres e os homens

Só faz três décadas, mas pelo menos na cultura mais ocidentalizada, o dia internacional da mulher já está incorporado ao calendário de todos. Nossas caixas de e-mails se enchem de textos enaltecendo nossas garras, nossos feitos, nossas conquistas. Ganhamos cumprimentos, flores, trocamos umas com as outras elogios, enfim, sentimo-nos a altura da importância concedida pelo mundo ao nosso gênero. Vale lembrar que o dia 8 de março não foi escolhido aleatoriamente já que buscava marcar uma data histórica na luta das mulheres por seus direitos, acontecida em uma fábrica de Nova York no ano de 1857. Lá se vão um século e um tanto e podemos dizer, sem que isso soe como um anseio otimista, que o lugar reservado às mulheres na cena social (e sexual) foi alterado e ampliado. Teóricos de todos os campos se dedicam não só a apontar as mudanças importantes nas condições sócio-políticas da mulher e as simetrias quanto a distribuição de poder e de autonomia em relação ao sexo masculino, como também tentam prever qual será o cenário das próximas décadas diante destas transformações. Enfim, podemos dizer que neste último século, as luzes estiveram nos iluminando e os holofotes tentaram cobrir nossa história e as crenças, superstições, medos e enigmas com os quais os homens tentaram entender nossos desejos, nossa capacidade de gerar e criar outros humanos e nossos anseios de sair da margem das decisões sobre os rumos da humanidade. Mas estas mesmas luzes fizeram com que passássemos a olhar mais de perto um mundo masculino que se manteve intacto e inquestionável. Quem são, o que querem, de que precisam e o que temem os homens? Sempre chamados a defender, proteger e lutar para manter os tesouros, a pátria e a descendência ou buscar soluções para os desafios que a natureza impunha, os homens jamais puderam questionar seu lugar de dono de todas as coisas e, portanto de machos fortes, viris e corajosos. Ser homem sempre significou não ser passivo, frágil ou covarde, além de ter que criar e mostrar o tempo todo aos outros homens as marcas de sua virilidade. Muitas vezes esta marca significou utilizar a mulher como um troféu, fosse pela destreza da conquista da dama mais cobiçada ou mesmo pela quantidade de mulheres seduzidas. Ainda que persista na cultura um pouco destas duas imagens, a das mulheres sem muito direito a escolhas e a dos homens que passam a vida provando sua masculinidade, sabemos que as próximas gerações de homens e mulheres terão que desenhar novas rotas para seus gêneros. Nem lá e nem cá, homens e mulheres são diferentes e assim deverão continuar. Mas homens e mulheres podem deixar estes antigos e mofados cânones cujas regras são prévias e ultrapassadas e construir caminhos mais criativos que combinem mais com nosso colorido e diversificado mundo contemporâneo. Atrasada, mas em tempo, parabéns a todas as mulheres neste 2009. E aos homens cuja sensibilidade permite saber serem elas uma parte importante de suas vidas.

coluna do dia 10 de março de 2009

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