quarta-feira, 1 de julho de 2009

Cafonagens

Sem dúvida a comunicação veloz e em tempo real de fatos e idéias que acontecem por este nosso mundo afora, se não nos torna mais inteligentes, pelo menos nos oferece um panorama mais completo da diversidade e complexidade do caldo humano. Entre crises econômicas e políticas generalizadas e conflitos bélicos com data de vencimento ultrapassada, a posse de Barack Obama no último dia 20 de janeiro conseguiu mobilizar uma grande parte do contingente humano do planeta que, de olhos e ouvidos fixos em suas palavras e promessas, sentiu-se convocada a apostar em uma nova era. Imbuídos da responsabilidade de sua jornada, a ala dos democratas americanos se esmerou nos detalhes do cenário que mostrava ao mundo uma imensidão de pessoas reunidas à espera da consagração de seu novo e inusitado presidente. Silenciosos e emocionados, todos os presentes pareciam beber cada frase pronunciada. Por seu lado, Barack Obama não decepcionou aos que ao vivo ou virtualmente prestaram atenção ao seu discurso. De forma serena e calma, ele anunciou o fim de um período de infância ávida, feliz e sem limites da humanidade e pediu a cada um que se sentisse responsável pelo futuro da mesma. Jornais de todo o mundo encheram suas páginas para analisar ou prever os resultados deste momento histórico particular e dos tempos que nos esperam. Otimismo ingênuo e cafona? Ceticismo cínico? Desconfiança preconceituosa? Descrença árida e depressiva? Sim, há espaço para todos estes sentimentos. Mas há também uma tendência do mundo intelectual em encarar a figura carismática de Barack Obama como o messias certo no momento certo, e, portanto capaz de capturar e seduzir a massa humana, carente que está de líderes que acenem com alguma saída ou algum futuro que reconsidere a raça humana e restitua a crença de que é possível haver convivência justa, pacifica e respeitosa entre os humanos. Sim, é próprio da massa ávida e desamparada buscar figuras dispostas a vender algum discurso prometeico. Em 2003, empossado como presidente, o metalúrgico Lula não conteve as próprias lágrimas ao ver realizado o improvável. Mas, embora ele tivesse protagonizado uma mudança radical, ao permitir que qualquer cidadão brasileiro pudesse almejar o cargo mais poderoso da Nação, também mostrou-se desastrado e atrapalhado nas negociações políticas que tal cargo demanda. Barack Obama pode até guardar certas semelhanças com a surpreendente chegada de Lula ao poder, que descartou de forma inédita a importância de sua origem humilde ou do seu parco currículo. Sabemos o significado de um presidente negro americano ter sido eleito com uma das maiores votações de seu povo. No mínimo muda a maneira como as crianças negras vão olhar para si mesmas. De resto não vejo nenhum impedimento até o momento, no fato de milhões de pessoas do mundo inteiro, depositarem na figura simpática e séria de Mr.Obama, aquilo que se tornou um dos bens mais preciosos da atualidade: confiança.


Coluna do dia 27 de janeiro de 2009

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