quarta-feira, 1 de julho de 2009

A gaze de Gaza

As atenções e os holofotes do mundo estão (novamente) voltados para o Oriente Médio, mais especificamente para a faixa de Gaza, território árido e retangular na ponta sudeste do Mediterrâneo, que abriga 1,5 milhão de palestinos, a maioria muçulmanos e pobres,um panorama bem diferente de seu vizinho Israel, gigante econômico e militar com seus 7 milhões de habitantes. Embora o conflito entre os dois povos venha se perpetuando há mais de meio século e muitas das cabeças mais brilhantes do mundo se debrucem sobre ele, não parece haver solução à vista. De tempos em tempos, assistimos o sofrimento e a destruição arbitrária de vida de pessoas de ambos os lados. Que a guerra é a mais insensata das criações humanas todos sabemos, mas ainda assim costumamos apostar que sejam quais forem os conflitos,eles tendem a ser solucionados, mesmo que seja pela exaustão dos argumentos ou ainda pela intervenção de órgãos internacionais como as Nações Unidas. Não parece ser o caso deste. Como conjecturou o maestro Daniel Barenboim, nem Israel irá desistir da legitimidade da ocupação de seu território, conquistado há apenas 60 anos graças às negociações internacionais do pós-guerra, nem a Palestina abrirá mão do que antes lhe pertencia o que significa que existem dois povos, ambos totalmente convencidos de seus direitos de habitarem o mesmo pedaço de terra. Mas apesar da semelhança dos propósitos que alimenta permanentemente a obstinação e o ódio mútuo, há diferenças importantes que compõem a história e a cultura de cada um destes povos, assim como há uma incontestável supremacia econômica e militar de Israel que controla não só o espaço aéreo e marítimo, como a maioria dos pontos de acesso à região. Talvez o fato de Israel haver confeccionado cuidadosamente e desde sempre uma nação armada até os dentes para se defender de quaisquer inimigos, em que cada cidadão é também um soldado, tenha promovido o aparecimento de grupos ditos terroristas ou fundamentalistas como o Hamas e o Hizbollah, configurando um círculo eterno em que sempre é possível a cada um dos lados responsabilizar um ao outro pelos litígios constantes.A nós, resto do mundo, que assistimos as muitas cenas de sangue e desespero, resta conviver com um incômodo sentimento de impotência, ou tentar perscrutar através de seus próprios habitantes, aquilo que somente eles podem nos revelar.Quando diretores como Amos Gitai e mais recentemente Eran Riklis passam a mostrar ao mundo através de seus filmes as mazelas do cotidiano e das vidas israelenses em seu convívio inevitável com os ex-donos( e supostos inimigos) de seu território, podemos construir uma imagem mais próxima da realidade conflitiva deste país, em que uma em cada três pessoas é imigrante, vindo de todas as partes do mundo.Se a ideologia sionista pós holocausto dava coesão à diversidade cultural de todos estes judeus na construção um país com um território e uma língua comum,aos poucos as diferenças étnicas e religiosas passam se impor. Percebe-se, por exemplo, uma falta de identidade nacionalista nas gerações mais jovens que começam a evitar aberta ou silenciosamente o Exército, desde sempre um fator aglutinador desta sociedade, ou a questionar a utilidade da ocupação de Gaza e da Cisjordânia, já que a guerra entre palestinos e judeus afeta a cada um dos que tem sua raiz naquela região. Por seu lado o diretor palestino Hany Abu-Assad permitiu que o mundo assistisse o questionamento de dois jovens palestinos, messias escolhidos por Alá para desenvolver a missão suicida, mas considerada sagrada por seu povo em sua eterna vingança pela ocupação israelense de seu território. Sem tradução para o português, Paradise Now ( em uma clara alusão sobre a crença de que estes mártires irão de encontro ao paraíso e receberão sua recompensa divina) mostra que muitos jovens palestinos se dividem entre sua fé religiosa que lhes exige uma submissão cega aos preceitos de Alá, e seus ideais menos sagrados, aqueles que todos os jovens do mundo compartilham, na esperança de poderem cantar,namorar, sonhar,estudar, trabalhar ,etc.

Coluna do dia 20 de janeiro de 2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário