terça-feira, 7 de julho de 2009

Bullying e outros comportamentos indesejáveis

Mesmo sendo tema freqüente de debates entre os educadores ou de notícias pela mídia dos últimos tempos, o termo bullying ainda é desconhecido do público em geral. Sendo mais uma entre as muitas palavras importadas que se incorporam à nossa cultura, em inglês bullying se origina do verbo to bully que significa tratar com desumanidade e grosseria, humilhar ou ameaçar outros mais fracos e impotentes. Hoje faz parte do vocabulário de educadores e escolas do mundo ocidental para designar um comportamento (comum) entre crianças e adolescentes quando escolhem outras, mais tímidas, envergonhadas ou frágeis para fazerem sobre elas todos os tipos de zoações. Se a norma atual exige manuais que busquem curar qualquer desvio, são muitas as cartilhas sobre o bullying produzidas por especialistas ,que exibem orientações tanto para o corpo diretivo e os professores das escolas,quanto para os pais. Claro que esta forma de intimidação de alguns, sobre outros menos preparados para se defenderem, não deve ser tratada como algo sem importância. Não são poucas as vezes em que professores, diretores ou pais se sentem impotentes diante desta violência. Por outro lado sabemos ser comum que crianças ou adolescentes juntem-se para formar grupos (tribos, gangues) que permitam-lhes um plus de poder e prestígio. Ao vestirem a fantasia do “conosco ninguém pode” resvalam facilmente para o exercício tirânico da intolerância, da discriminação e da violência através de ridicularizações, ameaças e chantagens feitas à crianças e adolescentes mais frágeis ou aquelas que apresentem qualquer indício de exceção aos padrões cultuados pela sociedade. Algumas destas vítimas podem viver tais achaques de forma traumática e avassaladora. As instruções contidas nas cartilhas que tentam prever estes comportamentos em um quadro de possibilidades e chamar a atenção dos profissionais da área da educação ou dos pais são um passo a frente no sentido de imputar as devidas responsabilidades e criar uma espécie de repertório de cuidados e alternativas de ambos os lados (pais e professores). Mas há que se refletir sobre a complexidade de tais motivações. A escola é hoje o espaço em que as crianças mais permanecem durante sua vida e não por acaso estas tem se equipado cada vez mais para receber e oferecer a elas, desde o seu nascimento, todas as espécies de cuidados e saberes. Sendo assim, depois da família, a escola seria o principal núcleo de socialização da criança, e onde ela certamente dará continuidade às encenações que fazem parte de seu mundo. O brincar e o representar não são uma concessão dos adultos ( pais, professores) para as crianças, mas um exercício importantíssimo de expressão e elaboração de seus sentimentos, lembrando que nestes sentimentos estão incluídos a agressividade, a hostilidade e a ira. As tramas amorosas vividas por cada criança são protagonistas de muitas de suas encenações no seio familiar (e também na escola) em que participam de forma efetiva os sentimentos de ódio, rivalidade e ciúmes e seus derivados, as formas sádicas e masoquistas de dar ou receber. Entretanto o significado de tais dramas encenados nem sempre estão ao alcance de nossa percepção e menos ainda da criança. Se a nós cabe a tarefa de educar seja em casa, seja na escola, guardadas aqui suas diferenças, esta tarefa não se limita ao fornecimento de ferramentas e saberes. Ela é também um trabalho de inserção de um tempo especial de espera entre o que a criança demanda e a satisfação desta demanda. Tempo dos nãos, dos limites e do árduo trabalho de ajudar a criança a sair de seu mundinho fechado em direção ao complicado e jamais bem-acabado mundo compartilhado com os outros, cheio de sons e fúrias, mas também repleto de trocas e alegrias. Sem nos esquecer que os excessos merecem sempre um olhar mais cuidadoso ou um cuidado especial.

coluna do dia 12 de maio de 2009

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