terça-feira, 7 de julho de 2009

Ser ou não ser

Figura emblemática, Michael Jackson foi sem dúvida um artista de nossos tempos. Nascido na era da mídia, cedo seu talento o alçou a ícone musical do planeta. A década de 80 foi sua. Era difícil assistir aos seus clips inovadores, verdadeiros roteiros cinematográficos produzidos com recursos e efeitos que a tecnologia da época oferecia, acrescido de sua performance corporal perfeita, e não cultuar este conjunto como uma obra de arte. Aos que bebiam de sua destreza corporal, e tentavam imitar seus passos inquietantes, ou aos que cantavam seus hits, acompanhando seus gritos e breques, suas roupas ao mesmo tempo personalista e comuns, Michael Jackson fazia história na música pop mundial. Morto aos 50 anos, dos quais 45 faziam parte de sua vida artística, nos últimos anos acostumamo-nos a assistir sua humanidade frágil, estampada na figura trágica que seu corpo se transformou. Como é de praxe em mortes de ídolos, no dia seguinte à sua morte, pudemos assistir de nosso sofá, os melhores momentos de sua arte. Há séculos que a arte e os seres humanos por trás dela,seguem fascinando a nós, simples mortais. Quem sabe por ocupar este espaço especial, que nos transporta a lugares impensáveis e conseguir reunir diferentes pessoas, atravessando barreiras étnicas, sociais e geográficas, a arte e o artista continuam a ser reverenciados sem questionamento, perpetuando o congraçamento humano em torno do sublime. Ainda que tentemos submetê-la às nossas interpretações, que insistamos em utilizar adjetivos que a descrevam, ela só continua a ser arte por desconstruir nossas expectativas e perturbar nossos sentidos. E continua a nos oferecer a possibilidade de sonharmos em ser tão especiais quanto a arte dos artistas, que o tornam único. Mas é um equívoco quando imaginamos o homem especial que existiria por trás do artista, esquecendo-nos que sua história é humana. Dono de um estilo performático inusitado, Michael Jackson desde sempre anunciou ao mundo o lado trágico de sua vida artística, sonho perseguido pelo pai de maneira doentia e autoritária. A partir de meados dos anos 90, foi o estranho mundo de Michael que passou a gerar as manchetes : seu comportamento excêntrico, sua gradual mudança da cor da pele e as acusações de abuso sexual contra menores. Suas canções recebiam menos atenção que a sua aparência - o nariz alongado, a pele esbranquiçada, o cabelo liso. Como outros ícones da música (Elvis Presley, Janis Joplin, Jimi Hendrix), Michael tentava arrastar sua arte junto ao peso e o preço de sua sobrevivência. Mas para nós, seus fãs, é sempre difícil encarar o lado humano do mito, sem reclamar de seus erros. A morte deste menino-homem, deste talentormento como o definiu Tom Zé, o reconduz ao ídolo amado e imitado que foi. Michael Jackson é lenda.

coluna do dia 30 de junho de 2009

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