quarta-feira, 1 de julho de 2009

Palavras de mulher II

Na semana passada eu quis marcar o nascimento desta coluna lembrando a todos a importância da existência na época atual, de espaços que divulguem as palavras das mulheres. A verdade é que não nos damos conta de que a história contada e escrita pelas mulheres é um fato recente. Também não levamos em consideração o quanto precisamos de outras mulheres que possam falar ou escrever sobre si mesmas, para que aos poucos possamos construir um acervo de pensamentos e reflexões ou sentimentos e intuições próprios, que nos permita sentir aquele gostinho bom de estarmos sendo compreendidas em nossas dúvidas e dilemas, ou em nossos anseios e sonhos. O século XIX produziu inúmeros romances, quase todos escritos por homens sobre as mulheres que eles viam, mas também sobre as mulheres que eles desconheciam e muitas vezes temiam. Também foi o século do amor romântico, do amor verdadeiro, que acabou nos presenteando com sua bandeira que prometia desbancar qualquer ato ou pensamento interesseiro. Como adeptas instantâneas deste romantismo, apostamos na possibilidade de sermos mais do que mães e mais do que esposas. Fomos além e às duras penas inauguramos um novo século com uma nova mulher. Com muitos erros e acertos, tentamos definir melhor nosso papel de mãe, de amante, de mulher, de profissional, de política, de intelectual. Ávidas pelo tempo desperdiçado em tão longa história da humanidade, muitas vezes nos perdemos em tentar conciliar tantas responsabilidades, ou tantos investimentos. Paciência. É necessário um tempo para a acomodação de tantas mudanças. É este tempo que pode fazer com que cada uma de nós reflita sobre suas experiências e contribua para que este gênero humano, tantas vezes mal interpretado, possa ocupar seu lugar no mundo com menos alarde. Para que a pergunta tantas vezes repetida sobre o que quer ou o que é uma mulher não fique pendurada no vestiário dos homens, como se não houvesse uma resposta digna e consistente. Para que possa simplesmente existir um espaço de respeito para o nosso gênero, com suas diferenças, idiossincrasias, jeitinhos, desejos. Ainda que seja para fazer sobreviver este nosso lado romântico, um pouco distante da matemática masculina, justamente porque desconstrói as certezas absolutas ao interrogar incessantemente o porvir e suas possibilidades. Afinal são as diferenças entre os gêneros humanos que podem aumentar o espectro das cores do arco –íris de nossas experiências. É também quando podemos colocar a dúvida e não a certeza no centro de nossas vidas, que ela, a Vida, passa a ser mais interessante e pode adquirir novos sentidos.


coluna do dia 10 de fevereiro de 2009

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