quarta-feira, 1 de julho de 2009

Última coluna

Não faltaram temas polêmicos, nem aqueles que revelam o que desejamos que permaneça oculto, na complexa rede de sustentação das sociedades humanas modernas. Crimes e violências em todas as camadas sociais, devastação contínua e cotidiana do planeta, conflitos inéditos e difíceis com seus imigrantes em países considerados evoluídos, eternos e insistentes embates étnicos e religiosos, são apenas alguns deles. Mas a crise financeira que estourou no final de 2008 não só surpreendeu a quase totalidade do mercado econômico mundial, como conseguiu quebrar a confiança que cada cidadão, independente de sua origem ou moradia, nutria em relação às promessas de um mundo cuja economia pairava acima de governos ou fronteiras geográficas e políticas. Como a história do rei que é convencido a desfilar para seu povo sem suas vestes majestosas, acreditando que só a ele eram invisíveis, em um primeiro momento a perplexidade e o medo nutrem nossa tentativa de negar a realidade. Preferimos imaginar alguns deuses reunidos em um Limbo Mundial, onde decisões sábias poderão modificar o destino dos estragos e amenizar as conseqüências futuras. Ou ainda quem sabe apostar que sendo parte de um país ainda não desenvolvido, estaríamos isentos dos tributos da crise por merecermos a misericórdia dos mais ricos. Impotentes, não sabemos ao certo o que nos reserva este tal Mercado que hoje dirige o grande trem da economia do mundo, o mesmo Mercado que abriu a todos os habitantes do planeta que quisessem e “pudessem”, a possibilidade de escolher e gerenciar sua vida financeira nos toques das teclas de seu computador. Moralmente destruído, o Mercado assiste seu poder em declínio acelerado, enquanto empresas de todos os lugares rezam para que seus respectivos governos coloquem a mão em seus bolsos ( via contribuição de cada cidadão) para evitarem um “mal maior”.Sem muitas instituições internacionais legítimas que possam ocupar um lugar que transmita a confiança necessária para se avaliar as raízes da tal crise ou delinear novos caminhos mais satisfatórios, o Mundo revela sua fragilidade. Um grande hiato, normalmente imperceptível, vem nos mostrar que entre o trabalho de cada cidadão que ajuda a produzir e a gerenciar os objetos ou serviços que serão consumidos e as ações de empresas as mais variadas, negociadas às vezes sem que seja necessário que tenhamos notícias de seu funcionamento ou importância, estão os milhares de habitantes, pequenos, médios e grandes investidores, que aprenderam a “jogar” a roleta do vai e vem, sobe e desce, compra e vende apenas em função de uma lógica que privilegia o número de apostas conseguidos muitas vezes sem ligação nenhuma com o valor real da empresa. Se é verdade que este descompasso tenha alimentado a crise de que falamos, talvez devêssemos apostar para 2009 na reflexão do que cabe a cada um de nós enquanto cidadãos deste Mundo, parte que somos deste planeta maior,nossa casa, nossa vida. Lembrando que a esperança precisa ser a última que morre, que venha uma Ano Novo!

Coluna do dia 30 de dezembro de 2008

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