quinta-feira, 30 de julho de 2009

Os sons dos casamentos

O filme Casamento Silencioso, em cartaz na capital, traz cenas hilárias e um tanto caricatas sobre um casamento que seria realizado em uma pequena vila na Romênia no ano de 1953, justamente no dia da morte de Stalin, o líder russo, então comandante maior dos países ocupados. Por ordem expressa dos representantes do partido, a família e todo o povo da pequena cidade que havia se preparado para os festejos, deveria cancelar qualquer cerimônia, fossem de mortes, nascimentos ou casamentos. Todos se recolhem a suas casas, mas inconformados, decidem realizar uma cerimônia muda, às escondidas, esforçando-se para se comunicar através de gestos ao redor de uma farta mesa de comidas e bebidas. O que se segue dá panos a muitas mangas de reflexões sobre nossas celebrações, assim como a extensão de seus significados. As cerimônias que acompanham mortes, nascimentos e casamentos, embora tenham acentos culturais singulares, são quase universais e provavelmente sua origem esteja não só no valor que damos a tais fatos, mas na nossa impossibilidade de cobrir o significado destas passagens humanas. É difícil para todos nós imaginarmos um nascimento, um casamento ou uma morte sem o peso de sua simbologia, e são justamente os ritos da tradição que repetimos indefinidamente, o que nos tranqüiliza. O casal do filme em questão vivia uma paixão avassaladora, constrangendo aos moradores que não suportavam mais conviver com as cenas públicas de seus encontros ardentes. A cerimônia do casamento deveria apaziguar a todos, colocando os pontos nos “is” ao formalizar a união destes corpos sem destino certo. A partir daí, o encontro dos corpos ganha um significado, um futuro, uma perpetuação possível da tradição. E para consagrar esta passagem, que muda os adjetivos que acompanham a espécie animal para os da espécie humana, nada mais sugestivo do que uma grande festa, com muita música, bebida, comida e danças para que todos possam enfim compartilhar de suas razões. Se a festa adquire uma razão de ser, podemos então extrapolar os limites do cotidiano, e ultrapassar certas fronteiras que em geral usamos para comer, beber e dançar. Neste sentido, muitas de nossas cerimônias admitem alguns excessos, desde que estes tenham suas razões devidamente partilhadas pela comunidade. Planejadas com um ano de antecedência, contando muitas vezes com um serviço especializado de cerimônias, as festas de casamento na atualidade continuam a cumprir este ritual de passagem, mesmo quando se transformam em verdadeiros eventos, promovendo não só um encontro testemunhal entre familiares e amigos, mas momentos minuciosamente registrados de grande júbilo para os orgulhosos pais e os esperançosos cônjuges.

coluna do dia 28 de julho de 2009

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