Corpos
que pedem para serem ouvidos: as questões de gênero na infância
Duas histórias de
crianças transgênero, Joana (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44034765) e
Melissa https://piaui.folha.uol.com.br/materia/retrato-de-uma-menina/) ganharam publicidade nos últimos anos e
contribuíram para o debate em torno do atendimento de crianças que desejam
trocar de sexo. Atendidas no Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de
Gênero e Orientação Sexual do Hospital das Clínicas de São Paulo, os pais de
ambas relatam que desde muito pequenos, seus filhos davam sinais contundentes
de desejarem pertencer ao outro sexo. Ambas as crianças ameaçaram cortar seu
pênis. Ambas viviam com tristeza o fato de haverem nascido meninos. Graças à
insistência dos pais de Joana, o AMTIGOS como é conhecido o ambulatório do HC,
passou a atender crianças a partir de 2011. Em 2018 já atendia 100 adolescentes
e 50 crianças e havia 140 menores de 18 anos em espera.
Não há como ignorar o
debate atual em torno do lugar das identidades, seus processos individuais de
subjetivação, suas lutas por emancipação política e reconhecimento social. Se o
masculino, o feminino, o corpo, o desejo, as práticas, a identidade, sempre
estiveram em questão, na atualidade parece importante pensar a diversidade sexual
e seu impacto sobre a criança e o adolescente quando a lógica que organiza os
sujeitos passa da diferença sexual para a diversidade sexual.
Se certas
subjetividades, sexualidades, corpos e famílias - transexuais, queer,
intersexo, famílias mono, homo ou pluriparentais – ficam excluídos do campo da
inteligibilidade, isso afeta o modo como são tratados na cultura e por
decorrência, na clínica.
Os fenômenos trans em
especial, impactam a todos, psicanalistas incluídos, ao afirmar uma condição de
radical indeterminação no campo da sexualidade. Quando se trata da infância, as
transidentidades interrogam e apontam uma ruptura epistemológica ao revelar que
as identificações de gênero definidas em função do aparelho genital designado
podem ser um caso particular dentro de uma multiplicidade possível de
identificações.
Como pensar, fora dos
padrões normativos, uma psicanálise da pós-transexualidade, atenta à
multiplicidade, à diversidade e à subversão característica da sexualidade
humana e ao sofrimento destes sujeitos em processo de constituição?
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