sexta-feira, 6 de março de 2020

Corpos que pedem para serem ouvidos: as questões de gênero na infância


Corpos que pedem para serem ouvidos: as questões de gênero na infância

Duas histórias de crianças transgênero, Joana (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44034765) e Melissa https://piaui.folha.uol.com.br/materia/retrato-de-uma-menina/)  ganharam publicidade nos últimos anos e contribuíram para o debate em torno do atendimento de crianças que desejam trocar de sexo. Atendidas no Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Hospital das Clínicas de São Paulo, os pais de ambas relatam que desde muito pequenos, seus filhos davam sinais contundentes de desejarem pertencer ao outro sexo. Ambas as crianças ameaçaram cortar seu pênis. Ambas viviam com tristeza o fato de haverem nascido meninos. Graças à insistência dos pais de Joana, o AMTIGOS como é conhecido o ambulatório do HC, passou a atender crianças a partir de 2011. Em 2018 já atendia 100 adolescentes e 50 crianças e havia 140 menores de 18 anos em espera.
Não há como ignorar o debate atual em torno do lugar das identidades, seus processos individuais de subjetivação, suas lutas por emancipação política e reconhecimento social. Se o masculino, o feminino, o corpo, o desejo, as práticas, a identidade, sempre estiveram em questão, na atualidade parece importante pensar a diversidade sexual e seu impacto sobre a criança e o adolescente quando a lógica que organiza os sujeitos passa da diferença sexual para a diversidade sexual.
Se certas subjetividades, sexualidades, corpos e famílias - transexuais, queer, intersexo, famílias mono, homo ou pluriparentais – ficam excluídos do campo da inteligibilidade, isso afeta o modo como são tratados na cultura e por decorrência, na clínica.
Os fenômenos trans em especial, impactam a todos, psicanalistas incluídos, ao afirmar uma condição de radical indeterminação no campo da sexualidade. Quando se trata da infância, as transidentidades interrogam e apontam uma ruptura epistemológica ao revelar que as identificações de gênero definidas em função do aparelho genital designado podem ser um caso particular dentro de uma multiplicidade possível de identificações.
Como pensar, fora dos padrões normativos, uma psicanálise da pós-transexualidade, atenta à multiplicidade, à diversidade e à subversão característica da sexualidade humana e ao sofrimento destes sujeitos em processo de constituição?

Nenhum comentário:

Postar um comentário