Gestão de
conflitos
Gestão é palavra de ordem do momento. E o mundo dos negócios tem se
ocupado dela propondo a gestão inteligente do capital, das pessoas, das
informações, das finanças, dos projetos, da qualidade, do conhecimento, etc. As
organizações dependem disso para tentar garantir a competência e a eficiência,
tomar novos rumos, acompanhar novos modelos. E abrir novos campos que possam
solucionar problemas e/ou minimizar os impactos causados pelas mudanças
constantes e pelas pressões inerentes ao mundo empresarial. No centro nervoso
desta rede há uma verdadeira “antropologia dos negócios”, uma cultura organizacional voltada para
todas as pessoas aí envolvidas – consumidores e produtores (trabalhadores,
acionistas) – e para as suas expectativas de sucesso e felicidade. Os negócios,
os lucros ou benefícios estão atados (direta ou diretamente, para o bem e para
o mal) à satisfação dos consumidores e dos trabalhadores. Trabalhadores que se
veem pressionados a fazer a gestão de sua carreira, e precisam não só avaliar
as empresas a que pertencem como o tempo investido na vida profissional versus
vida privada, sabendo que seu aperfeiçoamento é condição imprescindível para
assegurar sua carreira. As empresas por sua vez tentam atrair e reter talentos
humanos, para fazer diferença frente à concorrência e às exigências do mercado
e avaliam sua formação, conhecimento, eficiência, produção e adaptação à
ideologia de seus modelos de gestão. Um ambiente de negócios repleto de
desafios, de conflitos, de demandas e de excessos que ao deflagrar uma busca
incessante de novas e melhores formas de fazer frente às suas constantes
transformações, esbarra no imprevisível: sujeitos com seus desejos, anseios, sonhos
ou projetos secretos de vida. Parece ser neste confronto ou hiato que surgem os
profissionais coaching, espécie de
conselheiros, facilitadores ou mediadores para acompanhar e encaminhar
propostas e soluções de problemas. Há hoje coaching
especializados, que se ocupam do executivo, do empresarial, do pessoal (ou de
vida), da carreira. Embora haja um fascínio da cultura moderna pela
racionalidade e pela eficiência - vistas como formas mais econômicas do viver -
é surpreendente o surgimento, a rápida proliferação e a consolidação deste novo
profissional no cenário organizacional, que parece confirmar sua turbulência e
imprevisibilidade. É fato que a vida tornou-se complexa ao convidar o individuo a manter sua identidade ao mesmo tempo em que o incita a mudar, a criar o novo. Há um culto à autonomia e ao mesmo tempo uma dependência o que favorece uma corrida a todo o tipo de ajuda especializada. O trabalho ainda está entre as mais valiosas formas da cultura proteger os homens, ao reuni-los em uma convivência diária com um objetivo comum e promover uma identidade social, um lugar de pertencimento que pode favorecer as relações entre eles e relativizar os conflitos inerentes à experiência de alteridade. Instados a enfrentar riscos, a se transformar em empresários de si mesmos e a contar com sua própria capacidade, os indivíduos buscam sustentação e confiança para que a incerteza possa ser exorcizada e a angústia controlada, em uma luta infinita entre um sentimento de onipotência, de ilusão de invencibilidade, e as limitações infringidas pela impotência e pelo temor do fracasso.
A aposta da Psicanálise é a de que as “razões subjetivas” insistem em denunciar a impossibilidade do ser humano ser um ente apenas produtivo e ter o domínio absoluto sobre todas as ações e operações intelectuais.
Desenvolver habilidades e sensibilidades em relação às questões subjetivas não significa administrá-las. É pela percepção individual conquistada através da própria experiência subjetiva que se pode fazer uma gestão –-sempre parcial - dos conflitos.
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