domingo, 21 de junho de 2009

A adolescência em meio à vida

Parece interessante pensar sobre as razões que levaram a maioria dos adolescentes (e muitos pais) à eleger Juno um dos melhores filmes da temporada do Oscar 2008. Embora não tenha ganhado a estatueta (foi indicado em quatro categorias), a história da adolescente que engravida e decide doar seu bebê, capturou a muitos ao apresentar de forma leve e simpática temas complexos e polêmicos como a gravidez na adolescência, o aborto, a adoção e as famílias recompostas. Tarefa difícil sem dúvida, já que além de discorrer sobre dramas humanos atuais, e por isso estabelecer uma ligação com a platéia através de angústias e alegrias legítimas, revela facetas do mundo adolescente, esta mistura infantil e adulta, turbulenta e viva. Em geral, a violenta e apaixonante condição humana que compõe a adolescência, é um tema caro aos pais. Momento em que a antiga criança precisa realizar sua passagem ao mundo adulto, cada geração de adolescentes enfrenta as particularidades das expectativas e exigências culturais de sua realidade social e humana. Quem viveu sua adolescência nos anos sessenta ou início dos setenta, quando acontecia uma grande ruptura em relação aos valores coercitivos da cultura burguesa, flertou ou se engajou em ideais igualitários e pôde buscar alternativas de vida preconizada pela contracultura. Os jovens da atualidade habitam a civilização do desejo. Do todo-proibido daquela geração ao tudo-permitido desta, os adolescentes de hoje precisam encontrar formas de vida possíveis, construir valores que lhe façam sentido, dividir suas incertezas, sem deixar de apostar na sua capacidade de ser um agente transformador importante na sociedade. O personagem de Juno é esta adolescente que busca saídas e alternativas para velhas questões. Ao escolher transar pela primeira vez com seu amigo de escola, ela é surpreendida com uma gravidez indesejada e só informa à família ( pai e madrasta) sobre seu estado depois de ter desistido de abortar ( nos USA o aborto é legalizado) e resolvido doar seu bebê a um casal cuja foto figura nos classificados de um jornal, entre outros que desejam adotar. Simples?
Não. Embora Juno aposte na sua solução, ela viverá durante sua gravidez, um doloroso percurso entre a onipotência que rege a lógica adolescente e a impotência diante de inúmeras frustrações, antes de poder eleger com mais consciência crítica, um caminho possível. Mas o encanto do filme talvez resida no fato de apresentar de forma inusitada e delicada, não o rebatido confronto ou cisão entre o mundo adulto e o adolescente, mas uma conversa interessante entre os dois. O pai e a madrasta nem se apresentam como detentores das soluções sábias, nem se ausentam de sua responsabilidade e ainda conseguem, de lambuja, manter certa hierarquia (necessária) relativa à diferença de gerações.
Querem mais? Além de uma cuidadosa trilha sonora, o filme retrata in natura, as mazelas, os conflitos, as amizades e a vida que pulsa incessante na maioria de nossos adolescentes. Ainda bem!


coluna do dia 18/03/2008

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