segunda-feira, 29 de junho de 2009

Habemos presidente

Nestes últimos meses estivemos convivendo com a figura simpática de Barack Obama nas fotos e manchetes estampadas quase que diariamente nas primeiras páginas dos jornais , ou como personagem de colunas e blogs de quase todos os articulistas, que de forma velada ou escancarada juntaram-se à grande torcida mundial em torno de sua eleição a presidência dos USA. Confesso que compartilhei deste clima, e sem que eu pudesse evitar, fui tomada por uma forte emoção de alegria quando vi anunciada sua vitória na última quarta feira, dia 5 de novembro. Embora a mídia em geral recorte as cenas mais impactantes para provocar uma identificação em seus expectadores, era quase impossível ficar indiferente às reações de júbilo e otimismo que se assistiu tanto na grande maioria do povo americano quanto na do resto do mundo. Pode-se dizer que esta eleição cumpriu um papel inédito na maneira como cada habitante de nossa aldeia global sentiu-se autorizado a torcer por um cargo de presidente de um país que, tanto por sua hegemonia econômica quanto pela extensão de sua força política, ocupa um lugar de esperanças e apostas em mudanças que favoreçam a vida e a convivência humana mundial. Nosso mundo se tornou pequeno não só pela sua estatura diante da imensidão espacial que sabemos existir hoje, mas pela possibilidade de, graças ao grau de conhecimento e tecnologia que atingimos, sabermos o quanto poderemos ser atingidos em tempo real por alguns efeitos maléficos que aconteçam em quaisquer pedacinhos dele. É assim que, de olho no futuro, produziu-se uma certa irmandade da espécie e todos sentiram-se à vontade para comentar, refletir, pensar e problematizar a campanha presidencial dos Estados Unidos. De todos os lados, esperanças se espalharam em torno da figura carismática e mansa de Obama, cuja biografia, postura "cool" e imagem do “negro" que representa mais a mestiçagem étnica deste mundo pós-moderno do que os antigos conflitos raciais dos afro-americanos seduziram a muitos. Talvez por estarmos vivendo em um período especial de questionamentos em torno de políticas e culturas mundiais, o resto do mundo sentiu-se à vontade para se juntar aos anseios de mudança do povo dos USA. A imposição de filiação ao Mercado Econômico Mundial e sua promessa de livre acesso aos bens àqueles que conseguissem apreender suas regras, não garantiu as riquezas anunciadas, ainda que mantivesse nossa identidade de consumidores. A crise financeira que afetou a todos denunciou que diante de suas falhas, o Mercado apenas nos mostra o quanto podemos ficar irmanados em um barco sem direção. Nestes quadros de desamparo geral, o sonho de se tornar rico é sobrepujado, ainda que por pouco tempo, pela necessidade de se refletir e quem sabe inventar novas maneiras de se estar e viver neste mundo. Quando alguma figura consegue ocupar o lugar de promessa deste novo, é natural que comemoremos, já que ganhamos um futuro e podemos acionar nossa velha e preciosa fé.

Coluna do dia 11 de novembro de 2008

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