sexta-feira, 26 de junho de 2009

Eleições e outras coisinhas

Ao saber no início deste ano que a eleição para prefeitos e vereadores seria no dia 5 de outubro não pude evitar certa decepção pela coincidência com minha data de nascimento. As lembranças dos meses que antecedem as campanhas eleitorais com programas gratuitos e obrigatórios em rádios e TVs, os carros percorrendo ruas lembrando aos eleitores nomes e números de candidatos, as avenidas cobertas de banners, pichações, santinhos, os out-doors com fotos e promessas, tudo ao mesmo tempo provocava um forte sentimento de repúdio a esta prática tão contraditória , mas comum em torno deste ato de cidadania, quando cada um exerce o direito de escolher seus dirigentes. Se há motivos para comemorarmos a possibilidade de fazer valer nosso voto a algum candidato, o preço de acompanhar quase que obrigatoriamente a parafernália das campanhas, em geral demagógicas, sempre me pareceu alto demais. Foi por esta razão que me surpreendi com os resultados das restrições impostas às campanhas que de certa maneira modificaram o cenário das propagandas e das formas com que cada candidato revela aos seus eleitores os propósitos de seu engajamento político. Foi somente nos últimos quinze dias que passei a ouvir o burburinho das pessoas em torno de suas definições eleitorais, esta sim uma prática interessante por configurar o momento em que cada um discorre sobre suas expectativas, justifica suas escolhas, separa o seu “bom” do seu “ruim”, revela o discurso ao qual se encaixa ideologicamente. E mais. A boa surpresa foi perceber o número de jovens que não só já haviam escolhido seus candidatos, como sabiam descrever as razões desta escolha com base em pesquisas ou contatos sobre a atuação e o comprometimento destes com suas campanhas. Ao contrário do jovem alienado que habita o discurso da mídia em geral, uma pesquisa realizada pela UNESCO em 2002 revelou que 70% dos brasileiros entre 17 e 29 anos acreditam que o voto pode mudar a situação de um país. Quem sabe a familiaridade deles com a informatização dos dados eleitorais, com a divulgação pela internet sobre a vida e os feitos de cada candidato, a possibilidade de poder confrontar o discurso de promessas com a lista de falcatruas ou o envolvimento em transações corruptas, não só aumenta a chance de uma escolha mais consciente como a de que esta escolha possa ser discutida no seio familiar ou no círculo dos amigos. As decepções que virão ou que podem acontecer tem um teor diferente de um certo ceticismo que habita uma parcela considerável dos adultos que votam. A política implica sempre interesses contraditórios, já que diz respeito a escolhas, preferências e hierarquias e o jogo de poder que habita suas paragens é mais direto e perceptível do que aquele que permeia as transações econômicas. O jovem que pode escolher seu candidato, imaginar as possibilidades de sua vitória, conferir sua atuação no exercício de seu mandato, tem chance de se sentir parte do todo de sua cultura e estará no mínimo, colocando à prova suas convicções e expectativas em relação ao mundo que vive. Talvez isto não seja pouco.

Coluna do dia 07 de outubro de 2008

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