sábado, 20 de junho de 2009

Que seja infinito enquanto dure

Dizer que lá no íntimo cada um de nós, homens ou mulheres, adolescentes ou velhos aspira encontrar um grande amor, não seria nenhuma novidade e nem estaríamos caindo em generalizações simplistas. O mito do amor romântico é sem dúvida uma das maiores promessas de felicidade que a modernidade produziu e a aposta de que em algum lugar do futuro poderemos viver finalmente nossa história de amor com alguém especial habita em cada um seja de forma explícita ou velada. É esta aposta que alimenta muitas de nossas esperanças de um porvir mais feliz.
Mas a idéia de que o amor possa ajudar a transformar nossas vidas embora não seja nova é datada. O ideal de amor romântico, o amor verdadeiro, aquele que deveria juntar sexo, amor e casamento, surge com os valores modernos que apostavam no indivíduo autônomo, capaz de gerenciar sua própria vida sem a necessidade de se submeter aos códigos tradicionais pré-estabelecidos. Faz menos de dois séculos que homens e mulheres passaram a escolher seus parceiros por amor e a construir novos roteiros amorosos, inspirando e ao mesmo tempo se alimentando de um amplo repertório de amor criado pelos romances,filmes,teatro, novelas, letras de músicas.
Verdadeiras ou fictícias as histórias de amor sobrevivem no tempo e são lidas e relidas, assistidas, lembradas e citadas. Mas ainda que elas continuem inspirando nossos devaneios e discursos amorosos parece haverem dúvidas quanto ao futuro deste ideal amoroso. Sobreviverá?
Qual a possibilidade de cada um de nós, homens ou mulheres encontrar pela vida afora um (a) parceiro ideal, aquele (a) que nos suprirá nos terrenos do amor e do sexo? Tais dúvidas não são descabidas, já que neste último século, não foram poucas as transformações ocorridas na esfera amorosa. Portanto, a geração de nossos filhos, ainda que mantenha no seu íntimo tal encontro como promessa de felicidade, sabe que não são nem príncipes nem cinderelas. Sabe que o amor não vem colado à sexualidade: são vias diferentes que podem vir a se compor. O mundo azul dos homens e o cor-de-rosa das mulheres, até poucas décadas separado por normas e regras claras e distintas é hoje multifacetado. Ainda que homens e mulheres continuem a ter maneiras diferentes de desejar, viver e construir seu mito de amor, os traços “femininos” e “masculinos” se encontram distribuídos entre os dois em combinações variadas. Tornou-se comum a utilização de adjetivos que anunciam verdades subjetivas para se referir a si próprio: somos frágeis, estamos deprimidos ou angustiados, estamos carentes, confusos, desanimados. Estamos apaixonados, empolgados, felizes. Há um certo saber sobre as dificuldades de manutenção de um par amoroso, que exige um gerenciamento constante, infinito e sobre o qual não há qualquer garantia de duração. Sem necessidade de se submeter às antigas regras mais rígidas, sobra aos pares administrarem seus acordos, consensos e restrições. Muito mais difícil e penoso, sem dúvida, mas ainda que a construção de um terreno amoroso tenha se tornado mais árdua e complexa, as novas gerações não parecem abrir mão deste sonho. O amor permanece incólume, ocupando um lugar de limbo que todos insistimos em manter: o lugar da felicidade possível.

coluna do dia4/03/2008

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