quarta-feira, 24 de junho de 2009

Pré-adolescentes.com

A despeito do artigo anterior alguns leitores me inquiriram sobre os limites do uso da internet por uma geração de classe média que praticamente nasceu digitalizada. São eles os tweens, uma mistura de teens (adolescente, em inglês) com between (no meio de), meninos e meninas entre 8 e 14 anos, uma geração do “tudo ao mesmo tempo agora e urgente” que consegue ver TV, vagar pela Internet, ouvir música, conversar via MSN, jogar on-line etc., que acham natural conhecer pessoas de outros países ou locais e que crescem em um mundo em que a troca de informação de forma massiva e rápida é um modo de vida. Eles consomem informação e todos os tipos de mídia e produtos: cinema, TV, brinquedos diversos, YouTube, site de relacionamentos, DVD, MP3, jogos, camiseta, celular, e o que mais vier, e de certa forma impõem sentimentos contraditórios como o espanto,o receio, a admiração e o orgulho para a maioria dos pais. Esse novo estilo de jovens, não só vive em um mundo de produtos mais acessíveis o que proporciona uma vida mais confortável, mas também são filhos de uma geração de pais mais amorosos e cuidadosos, que apostam alto no percurso de sucesso e felicidade de seus pimpolhos, e que em geral se preocupam com quaisquer desvios que este percurso apresente. A maioria vive “protegido” em um espaço nirvânico de satisfação e poder, o que lhes concede a pecha de mimados e paparicados ou de mandarem e desmandarem dentro de seu ambiente familiar, quebrando a antiga hierarquia e fazendo a autoridade parental bascular entre uma excessiva indulgência e um autoritarismo defensivo e assustado. O mergulho precoce e inevitável na vida digital e virtual os faz mais espertos e ágeis que seus progenitores,o que produz em alguns casos uma inversão na relação pais que sabem , filhos que aprendem. Teria o período iniciado há décadas atrás,chamado de adolescência, em que os jovens passaram a assumir um controle inédito de sua vida e de suas atitudes inaugurando uma nova cultura e estética, sofrido uma inflação em sua faixa etária? Sim e não. É de se esperar que a geração dos informatizados ganhe o mundo mais cedo. Afinal é o computador que ocupa o lugar de prioridade em suas vidas, o que lhes permite acessar o “globo internauta” atrás de infinitos conhecimentos, informações e jogos virtuais. É também o acesso à rede de relacionamentos o que mais os fascina ao abrir inúmeros espaços em que é possível encontrar e estabelecer trocas com um grande número de pessoas ao mesmo tempo e estruturar verdadeiras tribos e grupos de iguais, atrás de um conforto identitário em uma idade em que isso é confuso e causa de inseguranças. Não há dúvidas que esta geração de pré-adolescentes inaugura uma relação com seus pais mais atravessada pela mídia fazendo com que estes deixem de ser “heróis e sabidos” mais cedo. Perplexos diante desta aparente independência, e muitas vezes sentindo-se menos aptos ao manuseio internáutico, os pais não sabem como controlar ou colocar regras para o acesso a esta nova maneira de estar no mundo. Como evitar que eles entrem no “mundo alternativo e inevitável” do sexo e da violência, já que o mundo virtual também oferece todas as produções humanas, inclusive as que advém das transgressões e dos excessos que permeiam a sexualidade e a morte? Como regular o acesso a este mundo tão fascinante do proibido, ao mesmo tempo violento e enigmático? Os tweens, ainda que possam se assemelhar nas roupas, gostos e até em uma desenvoltura para com os produtos da cultura contemporânea, diferem dos adolescentes tanto por ser mais imaturos física e emocionalmente quanto por ainda estarem (e precisarem estar) sob a dependência da proteção e dos cuidados efetivos dos pais ou dos que cuidam deles. Mas quando nós, pais, nos deparamos com sentimentos ambivalentes ou ainda de impotência, às vezes confundimos os discursos de “me deixem viver minha vida” com uma atribuição de independência genuína. Por outro lado, o sempre incômodo lugar de “pais que cuidam” pode às vezes resvalar para um lugar mais confortável de crítica ao desconhecido e ao mal que os “outros” podem fazer aos nossos filhos, estes aos quais desejamos que sejam MUITO felizes para provarmos a nós e ao mundo o quanto somos capazes. É difícil aceitarmos que em qualquer etapa de suas vidas, eles vivem situações em que desejam e temem ao mesmo tempo e que elas devem e podem ser enfrentadas e discutidas. Tanto a violência quanto a sexualidade são temas que tentamos evitar nos confrontar, como se eles fossem estranhos e externos a nós e não constitutivos de nossa condição humana. Só quando podemos admitir que os excessos de um e de outro são da ordem do que escapa às nossas repressões ou renúncias, é possível vestirmos certa humildade e nos armamos de muita coragem para entendermos que os anseios de nossos tweens de viver e de se perder neste novo mundo virtual só são possíveis quando eles sabem que podem contar com nossa assistência, palavra, compreensão e principalmente com os limites que precisaremos e podemos impor. Para isso precisamos arregaçar as mangas, nos inteirar deste novo mundo virtual e deixar que a tal liberdade pleiteada por eles seja conquistada e não dada por antecipação, por direito ou por uma “confusão de hierarquias”.


coluna de 9 de junho de 2008

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