quarta-feira, 24 de junho de 2009

internet.com

Se há um assunto polêmico atualmente é o que pretende adivinhar o que o futuro reserva a estas gerações ponto.com que romperam com séculos de um modo de transmissão de conhecimentos realizados por mestres, métodos e livros variados. A internet é a vedete de debates calorosos entre os pensadores contemporâneos sempre que se anuncia o futuro de uma geração que aparentemente desaprende a escrever e a ler. Recentemente este debate ficou acirrado com a publicação do livro "The Dumbest Generation" do professor Mark Bauerlein da Fundação para as Artes nos USA. Lançado há duas semanas, o título que classifica as novas gerações como “a mais estúpida” já é um indicativo dos ataques que virão a quem nasceu em algum momento das últimas três décadas. Daí para frente o autor discorre sobre os males da internet e de como ela põe em risco nosso futuro ao formar jovens sem memória e superficiais, que não conseguem diferenciar o significativo do insignificante e que se utilizam da rede virtual apenas para se relacionarem e fazer trocas de banalidades ao invés de usufruir do acesso de informações e conhecimentos que ela gera. As discussões sobre os efeitos futuros da era digital sobre as novas gerações são cessam. Contrapondo-se as profecias apocalípticas deste professor, em 2005 o colunista da revista Wired escreveu um livro que se propunha a provar que os games, a internet e a TV potencializam as faculdades cognitivas das pessoas, ao exigirem elaboração constante de raciocínio. Ele tentava chamar a atenção para o curso natural da história ao lembrar que o aumento do número de informações (e do acesso a elas) era irreversível e de certa maneira libertava o homem do isolamento das antigas fronteiras geográficas. Ambas as posições seriam representações de dois movimentos do pensamento ocidental moderno: um que acolhe a incerteza e a dúvida, aberto ao diferente, criativo e pouco autoritário e outro que busca se abrigar na abolição da diversidade, na imposição autoritária de um pensamento único e na intolerância para com o estranho. O paradoxo contemporâneo da convivência destes dois movimentos é bem representado pela adolescência, este período tumultuado que costuma encenar as contradições entre os desejos e os temores, entre os excessos e as leis, entre o novo e assustador e o antigo e seguro.É certo que acolher as dúvidas e as incertezas que fundam nossa liberdade é ter que administrar nosso desamparo. Não há como evitá-lo. Para compensá-lo ou nos defender dele, caímos na tentação de buscar as verdades absolutas. O mundo das redes que a internet abriu, ainda que já tenha alguns anos de intensa e crescente atividade, é muito novo para a nossa sociedade e estamos todos aprendendo a lidar com suas infinitas e constantemente renovadas possibilidades. Suas normas e regras de convivência ainda estão sendo construídas, assim como sua relação com os valores humanos de respeito, de privacidade, de verdade, de identidade, de preservação etc. Por ser uma arena aberta e um espaço que incita a liberdade ela permite a qualquer indivíduo criar, inovar e compartilhar ações, realizar inúmeras transações de compras, vendas e serviços, articular relações inimagináveis, exercitar laços de amizade, e por aí afora. É esta liberdade infinita, que estranhamente existe a partir de uma tela de computador, que anuncia um novo sistema de resultados imediatos e de interesse público e que aos poucos vai nos informando não só de uma nova era mas também de uma nova geração digitalizada que aprende através de um inédita e radical descentralização da produção do conhecimento e da cultura.Uma nova gestão da vida parece se anunciar, trazendo suas benesses, mas também seus restos incômodos, como sempre.

coluna de 3 de junho de 2008

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