domingo, 28 de junho de 2009

Niilismo

Sempre que estamos diante de certos cenários sociais, a palavra niilismo volta a habitar a mídia, anunciando nuvens cinzas que se abatem sobre todos. Se niilista é aquele que prega sua descrença absoluta em relação à ordem social estabelecida, em tempos de crises, incertezas, caos, é natural que este termo ressurja tingindo de cinza os discursos dos mais variados setores da sociedade. Curioso é pensar que a crise econômica que habitou e ainda prevalece nas manchetes das últimas semanas se juntou a crise política, esta sim mais companheira de nosso cotidiano nas últimas décadas. Afinal o que mais se repete desde que nos transformamos em meros consumidores de um mercado ditador, é que os países e seus Estados são joguetes de sua soberania. O que surpreende é que qualquer que seja o foco de nosso olhar, seja ele dirigido ao mercado e suas leis ou aos governos e suas políticas (principalmente à seus políticos) é comum que esqueçamos o quanto cada um de nós é parte integrante do caldo cultural em que hoje vivemos. Melhor dizendo, o quanto o produto tanto das benesses quanto destes descaminhos está fortemente ligado aos nossos mais íntimos desejos, estes sim humanos, demasiadamente humanos. Podemos tentar historiar ao lembrar a rota dos três últimos séculos quando inauguramos a Ciência como um produto de excelência humana que deveria dirigir com maestria a nossa razão, dominando a natureza e oferecendo a todos os habitantes da Terra, as melhores condições de vida que se pudesse criar. Este projeto moderno apostava em uma política de felicidade e é ela, a felicidade, que podemos contrapor ao niilismo. Mas o que é felicidade senão tudo o que pode nos proporcionar satisfação seja individualmente ou coletivamente, cobrando tão somente o preço do respeito aos limites necessários à manutenção do convívio humano? Se ter prazer e satisfação é hoje quase um imperativo, uma obrigação, algo implícito em nossos atos, pensamentos ou projetos, nem sempre fica claro a todos que para existir o respeito aos limites que favoreçam a convivência entre todos, é necessário que cada um individualmente se comprometa a compartilhar das leis e convenções, ou seja, que haja uma “crença” na possibilidade destas normas serem legítimas e aplicadas a todos sem diferenças.Sabemos que tal pretensão é inviável. Assim como as previsões do Mercado Financeiro, assídua e matematicamente realizadas com o propósito de manter a “crença” em sua capacidade de se manter acima de Estados,crises políticas, manipulações, etc, também não pode evitar o apetite humano, este sim hegemônico e desde sempre infinito.

Coluna do dia 14 de outubro de 2008

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