quinta-feira, 25 de junho de 2009

Heróis e vilões

É surpreendente o número de colunas, blogs e comentários que circularam pela mídia sobre o último filme de Batman , em cartaz na cidade. Também é surpreendente sua trama, que ao invés de abusar de efeitos especiais ou dos super-poderes de seu super-herói, se aventura a “humanizar” o Cavaleiro das Trevas e acrescentar ao Coringa, o arquiinimigo da ordem, uma dose de complexidade ao seu caráter psicopata e anárquico. Entre críticas e elogios, talvez valha a pena reconhecer o esforço do diretor Chris Nolan em pretender que seu filme pudesse fazer uma leitura mais aprofundada da disputa surda dos poderes, sua articulação com a corrupção nas sociedades ocidentais e seus desdobramentos quase sempre insolúveis. Ainda que o enredo não se diferencie muito das histórias de quadrinhos do Homem- Morcego, às voltas com o caos de sua Gotham City, o foco se desloca da simples polarização entre o mal e o bem ao mostrar que tanto um quanto outro habita a alma humana, alma esta que no final das contas está mais às voltas com seus desejos de amor, segurança, poder e reconhecimento.
Meio clichê? Sim e não, se ponderarmos que há bem poucas décadas seria improvável qualquer questionamento sobre a crença na bondade humana ou sobre a exterioridade do mal. Tornou-se mais fácil hoje crer que o Bem e o Mal do mundo são produtos da complexidade da alma humana, sempre dividida entre seus desejos de gozo e prazer e sua consciência moral. Talvez por isso o Coringa, magistralmente incorporado pelo recém falecido ator Heath Ledger, acabe roubando as cenas em que o Bem é confrontado com o Mal. Não porque estejamos afundados nas tramas do lado mais negro e podre de nossa existência e sim porque o diretor dá a ele uma consistência subjetiva que lhe permite refletir sobre suas ações e convicções ao apostar que todos podem ser maus e indiferentes ao Mal que o outro sofra, se tiverem que escolher entre a vida e a morte ou entre o poder e a exclusão, a submissão ou a pobreza. Não que ele não tenha razão. Em uma sociedade de indivíduos é muito mais difícil haver preocupações com a coletividade, assim como é comum que um individuo tenha que escolher entre a virtude de uma ação heróica dirigida ao bem comum e um interesse particular mesquinho. Não por acaso produzimos tantos super-heróis na nossa era. Precisamos construir modelos de indivíduos especiais que, assim como Batman, se despojam de suas roupas humanas e colocam sua fantasia, alimentando nosso imaginário e nossa crença na possibilidade de administrar o Mal, ou seja, de apostar que podemos ser seres morais. Ainda que os super-heróis possam mostrar sinais de sua humanidade e de sua fragilidade,é bom saber que no final de seus filmes confirmamos nossa capacidade de conter o Mal e que, apesar da violência e do caos que o Mal promove, o Bem, incorporado nos nossos melhores ideais coletivos, ainda tem chances de ganhar. Obrigada Batman por nos ajudar a manter nossa confiança na humanidade.




Coluna do dia 5 de agosto de 2008

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