domingo, 21 de junho de 2009

Um dia especial para as mulheres

Dia da mulher, da consciência negra, do índio, da parada gay. A sociedade ocidental parece necessitar se redimir de um passado não tão distante em que foi cúmplice de discriminações variadas, hoje julgadas injustas. O lado positivo é que se cria um espaço na mídia em que o tema será destacado, discutido e revisto. Se funciona como um mea culpa diante de velhos preconceitos que resistem às mudanças, acaba incidindo na possibilidade de confecção de um novo discurso. Na cola dos males que podem vir a ser um bem, esta polêmica se assemelha à questão sem consenso das cotas universitárias obrigatórias para negros, índios e pobres. Porque tornar obrigatório se por princípio as escolas públicas deveriam estar ao alcance de todos? Sem discordar das argumentações que criticam ou defendem, importantes para a reflexão e discussão das formas com que as políticas governamentais tentam resolver tal dilema, tendo a preferir que alguns negros, índios e pobres tenham acesso às universidades, ainda que seja pelo regime de cotas. Assim como prefiro que haja dias especiais para mulheres, negros, índios e gays.No mínimo coeficiente comum, repensa-se temas controvertidos e quem sabe consegue-se dar uma pequena volta ao parafuso da convivência com a diferença. Este é o caso da mulher.
De “sexo frágil” e “segundo sexo” a um lugar de destaque como “outro sexo”, a saída da mulher do âmbito doméstico e do cuidado com os filhos para o espaço público antes reservado ao mundo masculino, abriu-lhe um mundo de possibilidades, ao mesmo tempo em que lhe trouxe a difícil tarefa de sedimentar este novo lugar social. Enlouquecidas, tentamos combinar a mãe dedicada, a amante ardente e a mulher bem sucedida financeiramente, sem nos esquecer dos cuidados para com nossa pele, cabelos e silhueta. Confusas, entre acertos e erros vamos tentando compor novas maneiras de ser. Por sermos pioneiras, é natural que enfrentemos o ressentimento de nossos homens, acostumados a viver em um mundo masculino mais estruturado , que aos poucos vamos desconstruindo. Afinal um número sem fim de estereótipos sobre nós foi criado e utilizado por todos durante alguns séculos e não será sem alguma dificuldade que a história será passada a limpo. Se não vestimos mais a roupa dos seres frágeis e menos evoluídos, cai o véu das diferenças que eram desejadas, mas sobra o trabalho de recensearmos as diferenças “reais”. Quem somos agora? Nem superiores nem inferiores, nem melhores ou piores, teremos que construir nossas próprias referencias de seres humanos. Aos homens fica a tarefa de enfrentar o que sempre evitaram: saber através de nossas respostas, quais são nossos desejos e o que cada uma de nós pode querer deles. Se a igualdade de direitos não significa a igualdade entre os sexos, a relação entre homens e mulheres precisará não só compartilhar os direitos e obrigações sociais, mas também respeitar as diferenças que cabem a cada sexo. E hoje são inúmeras as maneiras que cada um dos sexos pode construir seus estilos a partir da diferença. São estes estilos que constroem aos poucos o discurso sobre nós mulheres, revelando nossos saberes, anseios, sofrimentos e frustrações e podem contribuir para que não só outras mulheres se reconheçam e se identifiquem, mas para que possamos simplesmente afirmar o que é ser uma mulher desta época.

coluna do dia 11/03/2008

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