terça-feira, 30 de junho de 2009

O que é ser uma mulher?

Ainda hoje é comum se ouvir esta questão (e não só pelos homens) geralmente formulada em tons que anunciam um enigma sem solução. Talvez em parte haja mesmo uma necessidade cultural de manter um certo véu sobre “ o que é ser mulher”. Mas estarmos em pleno século XXI nos permite abrir o leque deste complexo- mulher e apostar que a mudança dos tempos traz consigo novas conquistas do ser humano no saber sobre si mesmo.Sabemos hoje o quanto a história da humanidade é sempre revista a partir dos novos paradigmas que são colocados pela aquisição destes saberes. Estas questões me foram suscitadas pela história da Duquesa, filme que estreou neste fim de semana na capital sobre a vida de Georgiana Spencer, que viveu na Inglaterra no tumultuado período em que aconteceu a Revolução Francesa e participou do fervilhar de suas idéias, concepções de mundo e de vida e de uma ideologia que marcaria o fim de uma era. Georgiana se tornou duquesa ao aceitar se casar aos 17 anos com o rico e poderoso duque de Devonshire, que aos 26 anos já tinha uma filha bastarda com uma de suas empregadas e buscava apenas um herdeiro para seu nome e fortuna. Bonita, inteligente e carismática, Georgiana marcava sua presença na corte, fosse desenhando seus vestidos e acessórios ou discutindo com sensibilidade e argúcia as pautas políticas do Partido Liberal,que comungava o clima revolucionário de então. A referência que o filme faz a Revolução Francesa não é gratuita. Ali se teceu o que viria a ser a aspiração moderna do mundo ocidental, ou seja, a igualdade, a liberdade e a fraternidade, que pretendiam resumir o fato de a humanidade poder partir do ponto zero, sem diferença de raças, classes ou gêneros. Passados três séculos pode-se dizer que estas questões continuam sendo digeridas pela cultura, principalmente no que diz respeito ao lugar reservado para a mulher.O filme aborda de forma sutil a violência imposta pela hierarquia entre os sexos, que convencionou um poder e uma liberdade ao homem e um submetimento à mulher.Creio não ser por acaso que os filmes busquem focar as relações amorosas e seus percalços: sexo,amor, traição, filhos, maternidade, paternidade. A experiência amorosa é necessariamente um território limite entre nós e um outro e por isso mesmo é fonte dos conflitos mais humanos, que gravitam entre o amor e o ódio,o domínio e a subjugação, o desejo e a indiferença, a rivalidade e a generosidade, etc. Georgiana parece ser uma mulher que confia em seus princípios humanos e na sua capacidade de fazer escolhas, de aceitar ou rejeitar argumentos e propostas. Parece ser alguém que conviveu com o exercício da reflexão sobre a vida e as pessoas e aprendeu a discordar ou encontrar caminhos alternativos. Em sua vida privada ela será testada de várias formas e terá que fazer escolhas corajosas, mesmo que para nós modernos, pareçam injustas.

Coluna do dia 25de novembro de 2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário