quinta-feira, 25 de junho de 2009

Prova de amor

Pode-se dizer que vivemos hoje o reinado do amor. Sem os critérios tradicionais que utilizávamos para escolher nossos pares, que de alguma maneira precisavam corresponder aos gostos de nossos pais e familiares, restou o amor. Ele não só legitima nossas relações como é um argumento poderoso, inclusive entre as gerações mais velhas. Ninguém contesta quando as escolhas, os pedidos, os favores, os sacrifícios ou os prazeres são feitos em nome do amor. Também não se estranha quando muitos choram, se deprimem ou se vingam pelas dores do amor. Na verdade, em nosso mundo atual, vivemos um circuito amoroso permanente. É esperado que nasçamos como fruto do amor de nossos pais. No seio familiar, tendo ou não irmãos, disputamos a preferência do amor de nossos pais, tios, avós. Também queremos ser especiais e admirados por nossos professores e amigos, e finalmente sonhamos em descansar nossos anseios amorosos com alguém especial, que nos amará como ninguém o fez anteriormente. Olhamos para os mais velhos, dividindo-os em afortunados quando vivem seus últimos anos de vida rodeados do amor e do carinho dos seus, e de condenados quando a solidão ou a pobreza são indícios da indiferença de sua família. Soberano, meio sagrado, o amor alimenta incessantemente a crença de ser além de necessário para a nossa sobrevivência, uma das maiores fontes de nossa felicidade. Entretanto, apesar de sua aura transcendente, o amor não está dado, não existe a priori entre os humanos, e nem segue o imperativo do desejo. O conhecido mandamento cristão de “amarmos uns aos outros” não se tornou regra ou norma social, já que não amamos qualquer pessoa simplesmente por ser ela nosso semelhante. Embora o amor tenha um papel preponderante em nossa constituição psíquica e se mantenha como um combustível importantíssimo de nossas relações, sua história em nossas vidas é complexa, atravessado que é desde o início não só por nossa agressividade, ressentimento e anseio de poder e domínio como pelas diferentes formas de submetimento e alienação. E se o amor tornou-se um dos maiores ideais de nossa época, também as dores do amor são nossos maiores sofrimentos. Como então garantir o amor em nossas vidas?
Ao que parece, ao longo das últimas décadas, na medida em que nossas antigas referências legais ou religiosas deixaram de cumprir o papel de uma imaginária estabilidade ou longevidade nas nossas relações amorosas, tivemos que nos ancorar nas provas de amor que conseguimos obter daqueles que desejamos que nos amem. Mas como definir tal prova de amor? Como apostar que alguma prova de amor possa garantir que somos realmente amados? Como aceitar que, apesar de termos conseguido muitas provas de amor, de repente já não temos certeza de sermos amados como gostaríamos? Ou de amarmos como pretendíamos? Durante nossas vidas muitas podem ser as provas de amor que exigimos ou que ganhamos e que cumprem o papel de nos apaziguar ou trazer uma tranqüilidade amorosa, mas a que mais ansiamos e que também nos acena com a maior dor quando falha, é a fidelidade. E não estamos restringindo o termo apenas às fidelidades sexuais. Tornamo-nos dependentes de uma certa fidelidade que esperamos ansiosamente do outro: que sejamos sempre MAIS especial do que qualquer outro ou qualquer coisa. Nossa busca ansiosa de amor nos faz eternos peregrinos em busca de artifícios que nos façam esquecer sua precariedade.


Coluna do dia 29 de julho de 2008

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